sábado, 30 de outubro de 2010

IGREJA NÃO TEM POSIÇÃO PARTIDÁRIA, DIZ CNBB

O vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), d. Luiz Soares Vieira, arcebispo de Manaus, afirmou ontem em entrevista à Rádio Vaticano, em Roma, que a Igreja já está cumprindo a orientação dada pelo papa Bento XVI, quinta-feira, quando condenou o aborto e aconselhou o episcopado a lembrar aos eleitores o direito de usar o voto para a promoção do bem comum.

A reportagem é de José Maria Mayrink e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 30-10-2010.

"A Igreja não tem posição partidária e o papa não está dizendo que se deve votar em um ou em outro candidato", observou d. Luiz Vieira, acrescentando que, "como os dois candidatos (Dilma Rousseff e José Serra) têm praticamente a mesma posição diante do aborto, é complicado fazer a escolha".    
   
O secretário-geral da entidade, d. Dimas Lara Barbosa, declarou à Rádio Vaticano que não existe divisão no episcopado a respeito do que o papa falou, embora haja opções políticas divergentes entre os bispos. "Nos pontos fundamentais, como a defesa da vida e a liberdade religiosa, que são valores inegociáveis, estamos em profunda sintonia com o santo padre", disse.

O discurso de Bento XVI aos bispos do Regional Nordeste 5, que estão em Roma, não vai alterar a orientação dada aos fiéis na Arquidiocese de São Paulo. O cardeal-arcebispo, d. Odilo Scherer, comunicou que serão mantidas para as eleições presidenciais de amanhã as mesmas instruções dadas antes do primeiro turno. Os fiéis são aconselhados a votar de modo consciente e responsável, sem campanha explícita para partidos ou candidatos.

"Não se trata de fazer uma cruzada na véspera e no dia das eleições, porque não é disso que o papa está falando", observou o bispo de Limeira, d. Vilson Dias de Oliveira, porta-voz do Regional Sul 1 da CNBB. "Estamos seguindo a orientação do papa, porque já vínhamos trabalhando na conscientização dos eleitores, sem apontar nomes de partidos ou de candidatos", afirmou.

O bispo de Jales, d. Demétrio Valentini, advertiu que "se deve evitar a tentação de achar que o papa está interferindo na política brasileira". "O bom da democracia é cada um poder votar de acordo com a sua consciência."

Nas dioceses de Guarulhos e de Lorena, o orientação do 1.º turno para não votar em Dilma ou no PT permanece inalterada.

Bispo de Caçador divulga carta em apoio a Dilma

O bispo Dom Luiz Carlos Eccel, de Caçador, Santa Catarina, divulgou nesta sexta-feira, 29, uma carta de apoio à candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, um dia depois que o papa Bento XVI pediu aos bispos que orientassem os fíéis para votar em candidatos “contra o aborto e a favor da vida”.

A reportagem é de Jair Stangler e publicada no Estadão, 29-10-2010.

É o segundo texto de apoio a Dilma que o bispo divulga. O primeiro data do dia 12 de outubro. No texto divulgado nesta sexta, o bispo afirma que “o Santo Padre foi muito oportuno e feliz nas suas colocações”, mas alerta para “facções sociais, políticas e religiosas” dentro da própria igreja que “estão manipulando o texto do papa, para justificar a sede do poder”.

Depois, Dom Luiz afirma que viu nos telejornais que tanto Dilma quanto o candidato tucano, José Serra, concordaram com o papa: “Ambos concordaram com as Palavras do Papa, dizendo que é missão dele exortar para uma vida coerente com os valores da fé e da moral, e que as palavras do Papa valem para todas as pessoas de fé, no mundo inteiro”.
A seguir, o bispo afirma que Lula “tem defendido a vida, e sempre se pronunciou contra o aborto. Nesses últimos anos o Brasil tem crescido e melhorado em todos os aspectos, de maneira especial no respeito à vida e a valorização da dignidade humana. Esta é a Vontade de Deus! E as pessoas, em plena posse de suas faculdades mentais, vão reconhecer esta verdade.”

De acordo com Dom Luiz, “nosso país está em pleno desenvolvimento e assim queremos continuar”. O bispo ainda destaca que Dilma “não fugiu para o exterior durante a ditadura, mas a enfrentou com garra e, por isso, foi presa e torturada. Ela queria um país livre, e que todas as pessoas pudessem viver sem medo de serem felizes, vencendo a mentira e o ódio com a verdade e o amor”.

Ele cita ainda palavras de Jesus para justificar seu apoio à petista: “Ninguém tem maior amor do aquele que dá a própria vida pelos irmãos.”

Ao final, o bispo agradece as palavras do papa: “Obrigado Santo Padre por suas sábias palavras! A Dilma é a resposta para as nossas inquietações a respeito da vida. Quem sofreu nos porões da ditadura, não mata.”

Eis a carta.

O papa e a política

Já havia lido o discurso do Papa Bento XVI, aos Bispos do Maranhão, em visita ad limina apostolorum.

Muito interessante o discurso do Papa. Ele não pode deixar de cumprir sua missão de Pastor Universal, exortando o Povo de Deus, especialmente no que diz respeito à defesa da VIDA.
O Santo Padre foi muito oportuno e feliz nas suas colocações, porque o Estado Brasileiro é laico, mas seu povo é religioso, e isto precisa ser respeitado. Quando digo que o povo é religioso é porque está disposto a fazer a Vontade de Deus e não somente dizer: Senhor, Senhor…, como às vezes se pretende, de maneira especial dentro da própria Igreja. Existem facções sociais, políticas e religiosas especializadas em fazer lavagem cerebral, deixando as pessoas sem convicções, mas com obsessões, e com a consciência invencivelmente errônea. Ficam semelhantes aos grãos de pipoca que levados ao fogo não estouram, e com mais fogo, mais duros ficam. Tornam-se donas da “verdade”. Estão até manipulando o texto do Papa, para justificar a sede do poder. (cf. http://www.releituras.com/rubemalves_pipoca.asp)

É a Vontade de Deus que nos salva e não a nossa, e sobre isto precisamos sempre nos exortar mutuamente, como diz o Apóstolo São Paulo. Portanto, que nossa fé seja sempre vivificada pela mútua exortação. Pode ocorrer de nos esquecermos que somos todos peregrinos caminhando para a Casa do Pai, e quando lá chegarmos, poderemos ouvir de Jesus o seguinte: “Afastai-vos de mim, vós que praticastes a injustiça, a maldade” (Lc13,27). Creio que ninguém vai querer ouvir isto naquela hora. Seu passaporte está em dia? Pode ter certeza de que a eternidade existe… Assim, busquemos alimentar nossa fé, sem esquecer, como diz o Papa, que ela deve implicar na política. A fé sem obras é morta, diz a Escritura Sagrada. E uma das obras que deve provir da fé, é o nosso voto consciente em pessoas que vão governar para o bem comum, respeitando a vida em todas as suas etapas e dimensões.

No mesmo dia em que li o discurso do Papa, assistindo ao telejornal, à noite, escutei o pronunciamentoda candidata e do candidato à presidência do Brasil a respeito do discurso do Papa. Ambos concordaram com as Palavras do Papa, dizendo que é missão dele exortar para uma vida coerente com os valores da fé e da moral, e que as palavras do Papa valem para todas as pessoas de fé, no mundo inteiro. O Papa falou, também, que o voto deve estar a serviço da construção de uma sociedade justa e fraterna, defensora vida.

Como Bispo da Igreja Católica, e como cidadão brasileiro, fico feliz por saber que nosso Presidente tem defendido a vida, e sempre se pronunciou contra o aborto. Nesses últimos anos o Brasil tem crescido e melhorado em todos os aspectos, de maneira especial no respeito à vida e a valorização da dignidade humana. Esta é a Vontade de Deus! E as pessoas, em plena posse de suas faculdades mentais, vão reconhecer esta verdade.

Nosso país está em pleno desenvolvimento e assim queremos continuar e, depois de 500 anos, nosso povo quer eleger, pela primeira vez, uma mulher que tem compromisso com a vida e provou isso com sua própria vida. Como? Ela não fugiu para o exterior durante a ditadura, mas a enfrentou com garra e, por isso, foi presa e torturada. Ela queria um país livre, e que todas as pessoas pudessem viver sem medo de serem felizes, vencendo a mentira e o ódio com a verdade e o amor, servindo aos ideais de liberdade e justiça, com sua própria vida. Disse Jesus: “Ninguém tem maior amor do aquele que dá a própria vida pelos irmãos” (Jo 15,13).

Obrigado Santo Padre por suas sábias palavras! A Dilma é a resposta para as nossas inquietações a respeito da vida. Quem sofreu nos porões da ditadura, não mata. Mas teve gente que matou a vida no seu ventre para fugir da ditadura, e portanto não deveria se comportar como os fariseus, que jogam pedras, sabendo-se pecadores. E Jesus disse: “Quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la, e quem entregar sua vida por causa de mim, vai salvá-la”(Mt 10,39).

Vamos fazer o nosso Brasil avançar ainda mais, com Dilma, que já provou ser coerente, competente e comprometida com a VIDA. O dragão devastador não pode voltar ao poder.

Deus abençoe os leitores e eleitores, governos e governados. Saúde e paz a todos (as)!

Tudo o que você me desejar, eu lhe desejo cem vezes mais. Obrigado.

Caçador, 28 de outubro de 2010
Dom Luiz Carlos Eccel
Bispo Diocesano de Caçador

BRASIL É ESTADO LAICO, DIZ LULA SOBRE FALA DO PAPA

Um dia após o papa Bento XVI pedir aos bispos brasileiros para condenar o aborto e orientar os fiéis em matéria política, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, em tom crítico, que a Igreja Católica fala a mesma coisa há 2 mil anos.

"Ô gente, não vi nenhuma novidade na declaração do papa, isso é um comportamento da Igreja Católica desde que ela existe", afirmou. "Se for ver o que a Igreja falava há 2 mil anos, ela falava exatamente o que o papa falou."

A reportagem é de Leonencio Nossa e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 30-10-2010.

Após visitar o Salão Internacional do Automóvel, no Anhembi, em São Paulo, Lula minimizou uma possível influência do discurso de Bento XVI nas eleições. "Isso pode ser falado a qualquer momento. Pode ser falado hoje, amanhã, depois de amanhã", disse. "Toda vez que você perguntar a um papa sobre a questão do aborto, ele vai dizer exatamente o que disse o papa antes de ontem."

Na entrevista, Lula disse que a CNBB pode se manifestar, mas observou que o Estado é laico. "Olha, eu não acho que ninguém vai além, cada um vai de acordo com a sua consciência", disse. "Este País é democrático e laico, portanto, as pessoas se manifestam do jeito que quiserem. A liberdade é boa por isso, é porque a gente se manifesta, ganha ou perde, pode pagar um preço pelos erros que cometeu."

HIERARQUIA PODE ADVERTIR, MAS NÃO INTERFERIR, ADVERTE CÂNDIDO MENDES

IHU OnLine

A Comissão Nacional de Justiça e Paz, através do jurista Cândido Mendes, emitiu pronunciamento em relação à alocução do papa Bento XVI dirigida aos bispos do Maranhão, quando se referiu à matéria de natureza política e enfatizou o uso livre do voto para a promoção do bem comum.

O reitor da Universidade Cândido Mendes observou que, de acordo com o Vaticano II, essa matéria é de específica competência dos leigos no corpo da Igreja. “A hierarquia pode advertir, mas não interferir na autonomia dos leigos no exercício do voto”, disse.

Ele mencionou a Constituição Pastoral Gaudium et Spes, segundo a qual "os leigos devem considerar as prioridades da justiça social, da aceleração do desenvolvimento ou da construção da paz, na luta contra a violência".

Intelectual de família católica tradicional e irmão do falecido arcebispo de Mariana (MG) e ex-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Luciano Mendes de Almeida, Cândido insiste na autonomia, mesmo quando "entram também nessas considerações o apoio a uma legislação contra o aborto.”

Mendes lembrou que a questão do aborto depende de um futuro debate no Congresso, no qual também "prevalecerão o peso e o testemunho dos valores cristãos".
A responsabilidade final da escolha é, pois, do eleitor, “na plena consciência da preservação da sua liberdade, no que é de sua estrita competência na vida pública nacional", assegurou o jurista.

Eis a íntegra da nota.

Pronunciamento do Prof. Candido Mendes - Primeiro Presidente Comissão Nacional de Justiça e Paz

A alocução do Papa Bento XVI aos bispos do Nordeste, ao reiterar a orientação dos pastores, mesmo em matéria política, insiste nesse uso livre do voto para promoção do bem comum. Esta decisão, nos termos do Vaticano II, é da específica competência desses leigos no corpo da Igreja. Pode a hierarquia advertir, porém não substituir-se ao que é a autonomia dos leigos no exercício do voto. Nesta promoção, pela política do bem comum, impõem-se, nas escolhas partidárias, como insiste a Gaudium Spes, as prioridades da justiça social, da aceleração do desenvolvimento ou da construção da paz, na luta contra a violência. Claro, entram também nessas considerações o apoio a uma legislação contra o aborto. Mas esta, no caso, toda a depender de um futuro debate no Congresso, quando prevalecerão o peso e o testemunho dos valores cristãos.

A responsabilidade final, pois, da escolha é do eleitor, na plena consciência da preservação da sua liberdade, no que é de sua estrita competência na vida pública nacional.

Candido Mendes
Pronunciamento da Comissão Nacional de Justiça e Paz
Rio de Janeiro, 29 de outubro de 2010.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

SAIU NA MIDIA - Dilma reafirma posição contra aborto e pede respeito à orientação do Papa

Eduardo Bresciani Do G1, em Brasília

A candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, afirmou nesta quinta-feira (28), em Brasília, respeitar a posição do Papa Bento XVI, que disse que os bispos brasileiros têm o dever de emitir juízos morais em matérias políticas, mas declarou não ver relação entre a orientação e a “campanha” que a acusava de ser favorável ao aborto.

“Vamos separar as questões. Acho que o Papa não tem nada a ver com isso. Aqui ocorreu uma outra coisa, ocorreu uma campanha que não ocorreu à luz do dia. Quem fez a campanha não se identificou, não mostrou sua cara. Foi uma campanha de difamações, de calúnias e algumas delas ao arrepio da lei”, afirmou a petista.

Dilma afirmou que o Papa "tem direito” a manifestar sua posição. “Eu acho que é a posição do Papa e tem de ser respeitada. Encaro que ele tem direito de se manifestar sobre o que ele pensa, é a crença dele, e ele está encomendando uma orientação.”

A petista reafirmou ser contra o aborto, mas a favor do tratamento das mulheres que recorrem à clandestinidade para interromper a uma gestação. “Cansei de repetir qual minha posição nessa questão do aborto. Eu, pessoalmente, sou contra o aborto, mas sei que a cada dois dias morre uma mulher nessas circunstâncias. Eu não acredito que ninguém em sã consciência recomende que se prenda essas mulheres.”

Fonte: ihttp://g1.globo.com/especiais/eleicoes-2010/noticia/2010/10/dilma-reafirma-posicao-contra-aborto-e-pede-respeito-orientacao-do-papa.html

FREI BETTO LAMENTA QUE PAPA SEJA 'USADO COMO CABO ELEITORAL'

IHU OnLine, de 29/10/2010

Frei Betto lamenta a postura do papa Bento XVI, que voltou a trazer o aborto ao debate político brasileiro às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais. Na manhã desta quinta-feira (28), o papa esteve com 15 bispos brasileiros do Nordeste, a quem convocou a condenar o aborto e orientar fieis a "usar o próprio voto para a promoção do bem comum".

Para o frei brasileiro há temas mais relevantes para o momento.

A reportagem é de Patrícia Ferreira e publicada pela Rede Brasil Atual, 28-10-2010.

"Lamento que Bento XVI esteja sendo usado como cabo eleitoral, seja para qual partido for. Há temas muito mais importantes do que aborto e religião para se discutir em uma campanha eleitoral", afirmou Frei Betto. "Aborto se evita com políticas sociais. Num país em que se sabe que os futuros filhos terão saúde, escolaridade e oportunidades de trabalho, o número de aborto é reduzido. Lula fez o governo que mais fez para evitar o aborto no Brasil", analisa.

No discurso proferido durante reunião em Roma, o papa afirmou que se "os direitos fundamentais da pessoa ou da salvação das almas o exigirem, os pastores têm o grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas". O discurso do papa reconheceu a possibilidade de eventuais efeitos negativos: "Ao defender a vida, não devemos temer a oposição ou a impopularidade".

Frei Betto relembrou que tal postura se parece com as de dom Nelson Westrupp, dom Benedito Beni dos Santos e dom Airton José dos Santos, bispos que subscreveram um panfleto produzido pela Regional Sul 1 da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O material trazia um pedido aos cristãos que não votassem no PT e em partidos que defendessem o aborto. Para o frei, o objetivo era clararamente fazer um manifesto anti-Dilma.

"Lamento também que três bispos tenham desviado a atenção da opinião pública para introduzir oportunisticamente o tema no debate", critica. Atuante em movimentos sociais, Frei Betto afirma que muitas mulheres acabam optando pelo aborto por se sentirem inseguras com o futuro que darão aos filhos.

Polêmica

O aborto ganhou status de tema de campanha desde o final do primeiro turno. A questão é apontada por analistas como uma das responsáveis pela perda de intenção de votos da candidata governista na reta final, causando o segundo turno. Desde o dia seguinte da votação, a discussão permaneceu na disputa entre os candidatos Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB).

O fenônemo levou a campanha de Dilma a promover eventos com lideranças evangélicas e de outras religiões. Ela assumiu ainda compromissos em "defesa da vida" e contrários a mudanças na legislação sobre interrupção da gravidez. O PSDB teria empregado, segundo relatos publicados em jornais e blogues, uma ampla ação de telemarketing ativo (milhares de telefonemas a eleitores) com o objetivo de espalhar a informação de que a petista seria favorável ao aborto.

A onda foi seguida por figuras relevantes do cenário religioso. A Comissão em Defesa da Vida, grupo católico coordenado pelo padre Berardo Graz, divulgou nota incitando os fiéis a não votar em Dilma. No último sábado (23), porém, o bispo dom Angélico Sândalo Bernardino leu, em São Paulo, uma carta pela 'verdade e justiça nas eleições' deste ano. O conteúdo da carta critica a atitude da Regional Sul 1 e a utilização eleitoreira do tema aborto.

Fonte: IHU OnLine, de 29/10/2010 http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=37812

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Entre Serra e Dilma, o que está em jogo?

**Frei Gilvander Moreira

Feliz quem consegue ler os sinais dos tempos e dos lugares e se posicionar do lado onde marcha o movimento em defesa da dignidade da pessoa humana e de toda a biodiversidade. No segundo turno das eleições presidenciais no Brasil, de 4 a 31 de outubro de 2010, está acontecendo vários tipos de posicionamentos das pessoas e instituições, entre os quais destaco quatro: Uns se engajaram na defesa da candidatura de José Serra (PSDB-DEM); outros militam na defesa da candidatura de Dilma Rousseff (PT-PMDB), que poderá se tornar a primeira mulher a ocupar a Presidência da República do Brasil; outros dizem "somos apolíticos...", "não somos partidários", "nossa instituição não pode se posicionar..." e outros defendem o voto nulo.

Essas quatro posturas merecem algumas considerações.

Primeiro, é mais cômodo ficar "em cima do muro", o que pode ajudar a ver melhor os dois lados, mas é uma postura ingênua cúmplice do status quo, pois diante de conflitos estruturais acaba lavando as mãos como Pilatos. Mais: "o muro já é território do inferno", diz um causo da sabedoria rabínica.

Assim, quem se omite acaba cometendo um grande pecado, pois reforça a posição de quem tem mais poder econômico e midiático. Quem diz "não posso me posicionar, porque sou responsável por uma instituição que não deve se comprometer com candidatura A ou B" está também assumindo uma postura mais cômoda e corporativista, aquela que preserva o meu/nosso corpo, as instituições. Assim, o "eu" ou "minha instituição" passa a ser o fim maior. O outro, o próximo, fica em segundo plano. Em encruzilhada quem não se decide por um lado ou outro acaba se dando mal e comprometendo a vida de outros.

Segundo, os que se posicionam de forma fundamentalista e moralista acabam usando em vão o nome de Deus, o evangelho e a fé das pessoas. Blasfemam. Isso aparece em panfleto que coloca a assinatura de José Serra e a fotografia dele após a frase "Jesus é a verdade e a justiça" e quando se bate da tecla dizendo "Serra é do bem". Isso mesmo: messianismo. É querer passar a ideia falsa de que é possível haver um salvador da pátria, é fortalecer o maniqueísmo que desqualifica o outro como sendo do mal e "eu sou do bem".

Assim mistifica o que não pode ser mistificado e revela o ódio que muitos da classe dominante têm em relação aos pobres.

Por defender a dignidade humana que estava sendo humilhada na ditadura militar-civil-empresarial, Dilma Rousseff sofreu por três anos no próprio corpo as agruras da tortura e dos cárceres dos tiranos que tratoraram 17 mil lideranças, cérebro da nação brasileira que estava se rebelando contra os ditames do capitalismo na década de 60 do século XX.

Importa recordar que não está no Plano de Governo da Dilma nenhuma das acusações alardeadas em panfletos, distribuídos aos milhares e via internet. Logo, são calúnias e difamações execráveis. Questões, tais como, aborto e união civil de homossexuais são assuntos complexos que precisam ser debatidos a fundo pela sociedade brasileira, sob a liderança do Congresso Nacional, que é quem tem competência para legislar sobre isso.

Terceiro, há o grupo que, de forma cidadã, se posiciona a favor de Dilma, ou de José Serra ou ainda defende o voto nulo. Fazem isso com argumentos históricos, éticos, filosóficos, sociológicos e políticos, defendem o que pensam ser melhor para o povo brasileiro. Aí, beleza! A construção de uma democracia real e verdadeira respeita e fortalece a liberdade de expressão e o debate de ideias e projetos de nação, o que ajuda a desfazer mitos, derrubar preconceitos, superar moralismos, dualismos, maniqueísmos, idealismos e posturas simplistas.

Mas por que tanta boataria e baixaria no segundo turno das eleições? Não é por acaso. Isso foi engendrado por quem quer ver a opressão de classe continuar no Brasil. Quem ganha e quem perde com o rebaixamento do nível da campanha eleitoral? Melhor seria que no segundo turno se apresentasse de forma aprofundada as propostas para se superar os grandes problemas sentidos pelo povo brasileiro nas áreas de alimentação, educação, saúde, meio ambiente, agricultura, reformas agrária e urbana etc. Gastar o tempo com acusações difamatórias beneficia quem não tem projeto, ou quem tem o pior projeto de governo, pois se for posto com transparência o que cada candidato e seus partidos farão, o povo, que não é bobo, certamente optará pelo melhor.

É do conhecimento de todos o que PSDB-DEM fizeram em oito anos de FHC na presidência e que estão fazendo em Minas e em São Paulo. Por outro lado, o povo está vendo o que o presidente Lula e o PT -com seus aliados- estão fazendo nos últimos oito anos no Brasil. A carta de Tiago, na Bíblia, diz "a fé sem obras é morta; mostra-me suas ações que direi que tipo de fé você tem." (Cf. Tiago 2,14-25). Logo, faz bem não acreditar em boataria, em panfletos caluniosos e nem observar apenas o que dizem os candidatos, mas o que fizeram e fazem. Urge comparar o jeito de Lula-Dilma-PT governarem e o jeito de FHC-Serra-PSDB governarem. Há semelhanças entre PT e PSDB, mas há diferenças substanciais também. Chamo atenção para cinco pontos:

1) A política social do governo Lula é melhor do que a do FHC-Serra-PSDB-DEM. São 13 milhões de famílias que tiveram sua vida melhorada. Na era FHC, com Serra sendo ministro, a política social era inexpressiva. Dona Maria, uma senhora de 60 anos, andou 14 quilômetros a pé e chegou ao aeroporto de Montes Claros, MG, com uma nota de 50 reais na mão, e disse:

"Soube pelo rádio que Lula ia chegar aqui agora cedo. Vim para agradecê-lo, pois se conheço esta nota e se posso almoçar e jantar todos os dias, com meus filhos e netos, agradeço ao governo Lula." Não é por acaso que grande parte dos pobres preferem Dilma e a maioria dos ricos preferem Serra.

2) FHC-Serra-PSDB-DEM comandaram o maior processo de privatização de empresas estatais da história do Brasil. Precarizaram e, posteriormente, privatizaram dezenas e dezenas de empresas que eram patrimônio do povo brasileiro. Até a Vale do Rio Doce foi praticamente doada para a iniciativa privada. Hoje tramita na Justiça mais de 100 ações questionando o processo de privatização da Vale. Quiseram, mas não conseguiram privatizar a Petrobrás, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, companhias de saneamento e universidades federais. Se não tivéssemos feito o Plebiscito Popular contra a ALCA (Área de Livre Comércio das Américas) e a implantação de uma base militar dos Estados Unidos em Alcântara, no Maranhão, FHC-Serra e PSDB teriam assinado a ALCA e os EUA estariam oficialmente com base militar dentro do nosso território.

3) A Política externa do governo Lula-Dilma é muito melhor que a política externa do FHC-Serra-PSDB-DEM. Países, tais como, Argentina, Paraguai, Bolívia, Equador e Venezuela, estão sendo apoiados pelo governo Lula. São povos empobrecidos que estão se levantando e autonomamente se libertando de tantas opressões. Uma eventual vitória de Serra seria desserviço do povo brasileiro aos pobres da América afrolatíndia. PSDB-DEM é arrogante no trato com os pequenos do Brasil e da América Latina, mas subserviente aos interesses do império dos Estados Unidos e das transnacionais. Lula-PT tem altivez nas relações com os grandes países e está aprendendo a respeitar a dignidade dos pequenos no Brasil e fora do Brasil. Exemplo disso, foi o aumento no valor do gás comprado da Bolívia e da energia comprada do Paraguai, via Itaipu.

4) Na era FHC-Serra-PSDB-DEM dá para contar nos dedos o número de criminosos de colarinho branco presos pela Polícia Federal. Mas em oito anos de governo Lula-Dilma, o contingente da Polícia Federal aumentou e mais de 2 mil servidores públicos, além de políticos profissionais, juízes, desembargadores, latifundiários e empresários foram presos pela Polícia Federal, após investigação séria que comprovaram crimes de colarinho branco. Logo, há ainda corrupção, mas antes quase não se investigava. Agora se investiga e prende. Falta o poder judiciário respeitar a Constituição Federal julgando e condenando os grandes criminosos que lesam o povo.

5) Na educação também podemos afirmar que há muito a se fazer, mas considerando os muros quase intransponíveis antes existentes e que impediam que a maioria da população tivesse acesso principalmente ao ensino superior, hoje temos de reconhecer que o governo Lula garantiu o direito ao ensino superior por meio de bolsas (PROUNI) e ampliando muito as vagas nas Universidades públicas. Um número grande de centros de formação profissional (os CEFETs) multiplicaram-se Brasil a fora. Houve efetivos incentivos à formação de professores capazes de ministrar aulas nas comunidades tradicionais, como indígenas, quilombolas e em acampamentos assentamentos de reforma agrária. Houve a valorização da cultura popular e inter-racial por meio da educação. Além de revigorar as Universidades Federais, outras 13 Universidades Federais foram criadas com centenas de Campus.

Por tudo isso, defendo o nome de Dilma e apoio um Projeto Popular para o Brasil, que ainda está longe de ser concluído, mas que passa por um caminho a seguir: o da eleição de Dilma Rousseff para a Presidência do Brasil. A partir dos pobres, dia 31 de outubro de 2010, votarei -e
aconselho- 13, Dilma.

Em tempo, espero que a convergência que está acontecendo em torno da Dilma e o desinstalar-se de quem estava acomodado possam acontecer após as eleições, pois a grande política deverá ser feita cotidianamente mediante o exercício de cidadania e soberania popular.

Belo Horizonte, 22 de outubro de 2010.

**Frei Gilvander Moreira é Carmelita, mestre em Exegese Bíblica, professor de teologia Bíblica, assessor da CPT, CEBI, CEBs, SAB e Via Campesina

Quinta-Feira, 28 de outubro de 2010

Fonte: Adital - http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=51839

SAIU NA MÍDIA - PT aciona MP para apurar licitação de obra do Metrô-SP

Escândalo

As cartas marcadas de uma licitação de R$ 4 bilhões feita sob o comando de José Serra no governo de São Paulo


 
O PT solicitou ao Ministério Público de São Paulo (MP-SP) abertura de investigação para apurar suposto conluio entre empreiteiras e indícios de licitação viciada nos lotes 3 a 8 da Linha 5 - Lilás da Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô). O partido pede que seja apurada a responsabilidade do poder público.

Em representação enviada nessa terça-feira (26) ao procurador-geral de Justiça do Estado, Fernando Grella Vieira, a bancada petista solicita "apuração de possível ilegalidade, inconstitucionalidade e improbidade na conduta" de autoridades do Estado, citando, nominalmente, o ex-governador do Estado e candidato tucano à Presidência, José Serra, e o atual governador, Alberto Goldman (PSDB).

"Há um cheiro esquisitíssimo de irregularidade. O Metrô de São Paulo já é objeto de irregularidades gravíssimas e os agentes políticos e empresariais precisam ser responsabilizados", afirmou o líder do PT na Assembleia, Antônio Mentor. A representação lista outros episódios, como o acidente na Linha 4 - Amarela e o caso Alstom - supostos pagamentos de propinas pela empresa francesa Alstom a autoridades brasileiras.

Provas

Uma reportagem publicada nessa terça pela “Folha de S. Paulo” comprova de forma irrefutável que a concorrência de R$ 4 bilhões para as obras da linha 5 do metro de São Paulo foi fraudada, feita com cartas marcadas, o que significa que os contratos podem estar superfaturados, caracterizando um bilionário esquema de desvio do dinheiro público.

A licitação foi aberta em outubro de 2008, quando José Serra era o governador de São Paulo. Nos dias 20 e 23 de abril deste ano, ainda com Serra no comando do Estado, a reportagem do jornal registrou em cartório e em vídeo, os nomes das empresas que seriam vitoriosas na disputa bilionária. Na quinta-feira passada, quando o Metrô anunciou o resultado, veio a confirmação das informações que o jornal registrara em cartório e em vídeo seis meses antes.

Trata-se de um dos mais flagrantes escândalos da gestão tucana em São Paulo, que atinge os contratos de obras apontadas como cartões de visita da campanha eleitoral de Serra. O candidato, que tem o costume de se definir como um gestor competente e conhecedor das ações de seus auxiliares, apresenta o metro e o Rodoanel como exemplos que devem ser repetidos pelo resto do País.

No passado, em casos como esse, tanto o Ministério Público como a Polícia Federal conseguiram rastrear o dinheiro público usado para abastecer caixas dois de campanhas políticas.

CPI

Na tarde desta terça-feira (26), a bancada do PDT na Assembleia de são Paulo começou a colher assinaturas para a abertura de uma CPI. O objetivo é investigar os contratos bilionários firmados pelo Metrô nos últimos anos.

O PASSO-A-PASSO DO ESCÂNDALO

Outubro de 2008

Metrô de São Paulo abre licitação para a linha 5 (lilás)

20 a 23 de abril de 2010

A “Folha de S.Paulo” obtém os resultados da concorrência e registra os nomes dos vencedores em vídeo e em cartório

21 de outubro

O Metrô divulga os nomes das empresas vencedoras e o valor de mais de R$ 4 bilhões pelas licitações. Tudo bate com as informações obtidas pelo jornal seis meses antes

Confira abaixo!

http://www.istoe.com.br/reportagens/107858_PT+ACIONA+MP+PARA+APURAR+LICITACAO+DE+OBRA+DO+METRO+SP?pathImagens=&path=&actualArea=internalPage

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

SAIU NA MIDIA – “Vocês decidem!”, orienta Dom Odilo

“Vocês decidem! É a vez dos eleitores, é a vez dos cidadãos, é a vez dos católicos, é a vez dos não-católicos. Todos vão fazer sua parte agora, decidindo, votando”, disse o arcebispo de São Paulo, cardeal dom Odilo Pedro Scherer*, durante missa comemorativa do aniversário da rádio 9 de Julho, sábado, 23, na Catedral da Sé. De acordo com o arcebispo, sua análise se deve aos questionamentos de muitas pessoas, muitos fiéis, sobre a posição da Igreja e a dele, nestas eleições. Segundo ele, depois de debate aqui, debate ali, e vai pra cá e vai pra lá, e o povo se questionando: “E agora como é que fica?” “Pois é, como é que fica?”, ele próprio questionou, respondendo em seguida: “Vocês decidem!”

A reportagem é de Elvira Freitas e publicada pelo jornal O São Paulo, 26-10-2010.

O purpurado disse que sua posição, e o que tem transmitido, é a mesma posição da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) é a orientação da Igreja e do Direito Canônico, sobre padres e bispos não terem partido. [Fique claro que a Igreja não tem opção oficial por Partidos ou Candidatos (as). Por isso, o Clero não deve envolver-se publicamente na campanha partidária (cfr. Can. 287; 572]. “Porque sabemos que na Igreja, na comunidade o povo simpatiza com um partido, simpatiza com outro. Vocês já pensaram se o bispo diz: ‘eu sou deste partido’, está dividida a diocese. A mesma coisa se o padre diz: ‘eu sou deste partido, votem neste partido’, está dividindo. Não pode”, enfatizou.

Prosseguindo, o cardeal explicou que também pelo fato de causar divisões, padres e bispos não devem indicar nem candidatos nem partidos, deixando a escolha livre aos eleitores. “Que escolham de acordo com sua consciência e responsavelmente. A nossa posição, a da Igreja, quanto aos princípios, vocês conhecem. A Igreja, de forma alguma, em nenhum momento, renuncia àquilo que são seus princípios, suas convicções, autonomamente.”

O arcebispo enfatizou que, na hora da eleição, a Igreja não impõe nada, nem princípios, nem candidatos. “A Igreja expõe e cada um deve fazer a sua parte”, disse, convocando a todos para que, nesta última semana da campanha eleitoral, reflitam e discirnam naturalmente. Dom Odilo disse, ainda, que todos têm o direito de fazer a sua campanha e, na hora de votar, cada um deve fazê-lo diante de sua consciência e diante de Deus, cumprindo a sua parte, para que o Brasil seja construído como um país democrático, respeitoso daquilo que são as coisas importantes, daquilo que é justiça, que constrói a paz, a solidariedade, a fraternidade, o respeito à vida, à pessoa, à dignidade humana.

“Isso está agora na ponta de nossos dedos; não é mais na caneta, é na ponta dos dedos, porque nós votamos na urna eletrônica. Então, essa é a palavra que eu queria dizer. E façamos este processo com respeito e na serenidade. Nós não podemos aprovar violência, não podemos aprovar desrespeito ao próximo. Sabemos que a campanha política sempre mexe com as emoções e as paixões. Mas isso passa. Depois a vida continua e devemos conviver e devemos levar adiante aquilo que são as nossas convicções, depois das eleições também”, concluiu.

*Dom Odilo Pedro Scherer – Cardeal Arcebispo de São Paulo

Fonte: IHU On Line http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=37728

terça-feira, 26 de outubro de 2010

MÍDIA, POLÍTICA E RELIGIÃO: POSSIBILIDADES E LIMITES

Entrevista especial com Pedrinho Guareschi

26/10/2010 – IHU – Instituto Humanitas Unisinos

“As igrejas são instituições que tentam, na medida do possível, comunicar, transmitir as ‘mensagens’ das diferentes religiões. Mas as igrejas são apenas ‘embalagens’, e nenhuma ‘embalagem’ dá conta de transmitir toda a mensagem”, diz Pedrinho Guareschi. Em entrevista à IHU On-Line, realizada por e-mail, o professor analisou o entrelaçamento que tem se dado entre religiões e política neste segundo turno das eleições presidenciais. Ele também reflete sobre como a mídia está tratando essa questão e afirmou: “Numa sociedade democrática e pluralista, que se costuma chamar de laica, todos devem ter o direito de dizer sua palavra, expressar sua opinião, manifestar seu pensamento, inclusive as igrejas. Outra coisa bem diferente é as igrejas quererem arvorar-se em donas também do político, querendo obrigar a todos a seguirem seus princípios e crenças. Elas devem servir e orientar seus fiéis com humildade e respeito”.

Pedrinho Guareschi
Pedrinho Guareschi é graduado em Teologia pelo Instituto de Estudos Superiores de São Paulo. Também possui graduação em Letras, pela Universidade de Passo Fundo e em Filosofia pela Faculdade de Filosofia Imaculada Conceição. Na PUCRS fez especialização em Sociologia. É mestre em Psicologia Social pela Marquette University Milwaudee. Na mesma área fez doutorado pela University Of Wisconsin At Madison. Atualmente, é professor da Fundação Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É autor de Mídia e Democracia (Porto Alegre: Evangraf, 2005), Os construtores da informação: meios de comunicação, ideologia e ética (Petrópolis: Vozes, 2000), entre outros.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Como o senhor analisa a dimensão que a religião está tomando nesse debate para o segundo turno?

Pedrinho Guareschi – Começaria sugerindo que se tenha clara uma distinção, que é mais ou menos pacífica, entre religião e igrejas. As igrejas são instituições históricas e, por isso mesmo, carregam consigo todas as limitações de sua historicidade: incompletude, contradições, mudanças, etc. Ao passo que as religiões são inspirações, conjuntos de mensagens, tentativas de resposta a problemas vivenciais do ser humano, tentativas de dar sentido às aspirações transcendentes de toda pessoa.

A partir daí, podemos dizer que as igrejas são instituições que tentam, na medida do possível, comunicar, transmitir as “mensagens” das diferentes religiões. Mas as igrejas são apenas “embalagens”, e nenhuma “embalagem” dá conta de transmitir toda a mensagem. A mensagem faz explodir qualquer embalagem. Só mesmo um fundamentalista (e são muitos!) para dizer que sua embalagem contém toda a mensagem e que essa é a única verdade.

IHU On-Line – A mídia, tanto tradicional quanto alternativa, tem poder sobre a formação de opinião ou decisão de voto?

Pedrinho Guareschi – Aqui se apresenta outra distinção fundamental: as “mensagens” são atingidas pela fé, pela crença. Não há maneira de você querer obrigar alguém a “acreditar” através de processos científicos. Isso seria ir além de suas possibilidades. A ciência (sociologia, psicologia social, antropologia etc.) pode ter algo a dizer sobre determinadas instituições, mas devem calar quando se fala de crença e fé.

IHU On-Line – Muitos dos padres que têm “saído em campanha” neste pleito são jovens formados recentemente. O que o senhor pode nos dizer sobre a formação atual do clero?

Pedrinho Guareschi – Aqui chegamos a um problema extremamente delicado: as ciências podem ter algo a dizer quando as crenças são claramente manipuladas a serviço de determinadas instituições. Como diz, com argúcia, o sociólogo Peter Berger, deve-se começar a desconfiar quando há uma correlação altíssima entre “acreditar na Santíssima Trindade” e a distribuição de renda das pessoas; só chegam a acreditar os que recebem determinada quantia. Alguma coisa estranha estaria acontecendo.

IHU On-Line – Tanto a Canção Nova quanto os programas do pastor Silas Malafaia tem sido usado para abrir o voto e defender Serra. Que papel essas mídias têm na opção do voto dos fiéis?

Pedrinho Guareschi – Há, pois, um campo específico que é o da fé e da crença, isto é, o da religião. A dimensão religiosa fica sendo a janela aberta ao transcendente. Ela não pode ser trancada e a busca por essa transcendência não pode ser impedida. Que deveriam fazer, então, as igrejas (instituições religiosas)? Elas deveriam ser as que levam à frente, as que impulsionam os seres humanos em busca dessa transcendência. Elas deveriam se ocupar desse espaço transcendente, místico, religioso afinal.

Mais um passo: A política é uma ciência que trata da organização da sociedade. Esse é seu campo específico. E deve trabalhar através da reflexão, da pesquisa, da busca das melhores estratégias para poder servir melhor à população.

IHU On-Line – Analisando essa relação entre religião e política, para o senhor, o está acontecendo hoje no Brasil?

Pedrinho Guareschi – Começando pela política. Percebe-se, e essa é uma prática desonesta e inaceitável, que alguns políticos e partidos tentam fazer uso desse espaço transcendente para conseguir seus intentos: eleger candidatos, impor determinados sistemas etc. Querem fazer uso da fé e da crença das pessoas para proveito próprio. Deve-se, então, repudiar, com veemência, a manipulação e instrumentalização eleitoral que se faz da religião, de modo oportunista, com a clara intenção de confundir as pessoas.

E é igualmente desonesto e inaceitável quando igrejas (ou seus responsáveis institucionais), que deveriam ocupar-se da promoção desse espaço transcendente, explicitando os valores éticos e os princípios que retiram da “mensagem”, começam a fazer uso dessa dimensão para eleger, controlar determinados candidatos e condenar determinados partidos. Estão extrapolando de seu papel. As igrejas podem, com toda humildade, como “servidoras”, lembrar aos fiéis que a elas aderem através de uma fé livre e esclarecida, esses princípios e orientações. Ao mesmo tempo essas igrejas deveriam repudiar a manipulação e a instrumentalização eleitoral da “religião” com a clara intenção de confundir, iludir e tirar proveito de pessoas menos esclarecidas.

Numa sociedade democrática e pluralista, que se costuma chamar de laica, todos devem ter o direito de dizer sua palavra, expressar sua opinião, manifestar seu pensamento, inclusive as igrejas. Outra coisa bem diferente é as igrejas quererem arvorar-se em donas também do político, querendo obrigar a todos a seguirem seus princípios e crenças. Elas devem servir e orientar seus fiéis com humildade e respeito.

E os partidos e candidatos deveriam saber que a dimensão da crença, da fé, é sagrada e não pode ser manipulada para proveito político. Como o povo brasileiro se guia mais pelo coração que pela razão, e a religião se situa nessa dimensão do afeto e da crença, é uma grande desonestidade aproveitar-se disso tanto para rebaixar outros candidatos como para tirar vantagem política.

Fonte: IHU OnLine - http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=37683

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

SAIU NA MÍDIA - Os santinhos de uma guerra suja - Parte 1

Da IstoÉ

A poucos dias da eleição, a campanha de José Serra se aproxima de grupos ultraconservadores e reforça a tática do ódio religioso. O oportunismo político divide a Igreja e vira caso de polícia

Alan Rodrigues e Bruna Cavalcanti



BAIXARIA
A Polícia Federal apreendeu 2 milhões de cópias do panfleto
acima numa gráfica de militantes tucanos em São Paulo










Eu gostaria de chamar a atenção para este papel que estão distribuindo na igreja. Acusam a candidata do PT, em nome da Igreja. Não é verdade. Isso não é jeito de fazer política. A Igreja não está autorizando essas coisas. Isso não é postura de cristão.? Cara a cara com José Serra e sua equipe de campanha, frei Francisco Gonçalves de Souza passou-lhes um pito. O religioso comandava a missa em homenagem a São Francisco, no sábado 16, em Canindé, no sertão cearense. Meia hora após o início do culto, Serra tinha chegado à basílica, onde se espremiam cerca de 30 mil devotos, atraídos à cidade para uma tradicional romaria. O candidato tucano, acompanhado do senador Tasso Jereissati e de outros correligionários, estava em campanha. Em tese, aquele seria um palanque perfeito para alguém que, como Serra, tem peregrinado por templos religiosos se anunciando como um cristão fervoroso. Enquanto ele assistia à missa, barulhentos cabos eleitorais distribuíam panfletos. Os papéis acusavam Dilma Rousseff de defender ?terroristas?, o ?aborto? e a ?corrupção?. Frei Francisco resolveu reagir ao circo e, então, o que era para ser uma peça publicitária do PSDB transformou-se num enorme vexame. Sob aplausos dos fiéis, o franciscano pediu que Serra e Jereissatti não atrapalhassem a cerimônia e que se retirassem, se não estavam ali para rezar. Jereissatti, descontrolado, passou a gritar que o padre era um petista e tentou subir no altar. As cenas gravadas pelas equipes de tevê de Serra jamais seriam usadas na campanha.





MULTIUSO
Kelmon Souza mora na sede da Associação Theotokos

A saia-justa em Canindé foi apenas o primeiro sinal de que a estratégia tucana de apelar a preconceitos religiosos e difamação estava começando a dar errado. Um dia depois, no domingo 17, no bairro do Cambuci, região central de São Paulo, a Polícia Federal apreendia dois milhões de panfletos anti-Dilma numa gráfica pertencente à irmã e ao sobrinho de Sérgio Kobayashi, um dos mais influentes coordenadores da campanha do PSDB. A partir daí, pouco a pouco, vinha a público a armação de uma guerra suja comandada pela central de boatos instalada no comitê central de Serra. É a maior campanha de mentiras já montada em uma eleição. Os panfletos apreendidos evidenciavam que os tucanos montaram um bureau especializado em divulgar difamações, reunindo profissionais da mentira com a tarefa de espalharem boatos envolvendo principalmente sexo e aborto. Com tentáculos no submundo da campanha eleitoral, este aparelho utiliza-se de setores radicais geralmente afeitos à sombra da atividade política institucional: integralistas, monarquistas da direita extremada e setores ultraconservadores da Igreja (leia quadros acima e ao lado). Ao contrário do que pressupõe a biografia oficial de Serra, esses fatos demonstram que para tentar vencer a eleição o ex-governador paulista fez parceria até com grupos que sempre estiveram ao lado do autoritarismo.


OPINIÃO
Dilma, cercada por repórteres,
condena o uso da religião na campanha

Os santinhos de uma guerra suja - Parte 2

A poucos dias da eleição, a campanha de José Serra se aproxima de grupos ultraconservadores e reforça a tática do ódio religioso. O oportunismo político divide a Igreja e vira caso de polícia

Alan Rodrigues e Bruna Cavalcanti

A ordem para encomendar o material à gráfica ligada aos tucanos partiu de dom Luiz Gonzaga Bergonzini, bispo da Diocese de Guarulhos, na Grande São Paulo. Ele é antigo conhecido do PSDB, amigo declarado de seu conterrâneo Sidney Beraldo, deputado estadual pelo partido e um dos coordenadores da campanha de Serra em São Paulo. Nas conversas de sacristia, dom Luiz tem fama de ser um homem ?maquiavélico? e ?implacável?. Padres o descreveram à ISTOÉ como alguém que não aceita opiniões divergentes e já criou situações embaraçosas para constranger e afastar subordinados que questionam seu radicalismo. Para fazer os contatos com a gráfica dos Kobayashi, dom Luiz contou com a ajuda do ex-seminarista Kelmon Luís da Silva Souza. Frequentador da Catedral Metropolitana Ortodoxa, na zona sul de São Paulo, Souza também é presidente da Associação Theotokos, um grupo católico ultratradicionalista, e membro do autodenominado Partido Monarquista Brasileiro. Em 2006, um dos parceiros do ex-seminarista que atua numa organização integralista (leia quadro abaixo) doou R$ 3,5 mil para a campanha do deputado federal Índio da Costa, candidato a vice-presidente na chapa de Serra. Quando a atuação de Souza e dom Luiz tornou-se pública, os dois se enclausuraram. Nos próximos dias, no entanto, terão de prestar depoimento à Polícia Federal, investigados por crime eleitoral, calúnia e difamação.


A distribuição de panfletos caluniosos em paróquias que estão sob a jurisdição de outros bispos provocou um racha na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. ?O embate ideológico que existiu nos primeiros anos da CNBB, mas estava ausente nas últimas décadas, ameaça voltar após as eleições?, avalia dom Pedro Luiz Stringhini, bispo de Franca. Fiéis não param de telefonar e mandar e-mails para a Cúria Diocesana de Guarulhos condenando o comportamento de dom Luiz. Eles questionam: se os cofres da igreja estão quase vazios, com que dinheiro o bispo vai pagar a encomenda dos panfletos que beneficiam Serra? ?Na segunda-feira, recebi uma ligação de dom Luiz pedindo desculpas pelos transtornos, contou à ISTOÉ Paulo Ogawa, administrador da gráfica que trabalha para o PSDB. ?O Kelmon também telefonou?, disse ele. ?Garantiu que eu não ficaria no prejuízo e que a fatura do material apreendido pela PF, no valor de R$ 30 mil, poderia ser enviada porque a igreja iria pagar.

POLÍCIA
Cardozo (PT) pede que a ligação dos tucanos com a gráfica seja apurada


As acusações contra Dilma que aparecem nestes panfletos são idênticas às divulgadas pela central de boatos dos tucanos na internet. No bureau de difamação instalado no QG tucano trabalham 30 ?troleiros?, como são chamados os militantes que rastreiam e espalham pelas redes de computadores propagandas negativas e calúnias sobre a candidata do PT. O comitê da campanha de Serra ocupa quatro andares do antigo Edifício Joelma, no centro de São Paulo. No térreo fica o chamado baixo clero, que recebe informações de militantes que estão nas ruas e busca cooptar lideranças de diversos segmentos, como o dos religiosos. É ali que trabalham operadores como o pastor Alcides Cantóia Jr. Ele coordena com afinco o grupo dos evangélicos que, entre seus trunfos, se orgulha de ter conseguido a adesão do pastor Silas Malafaia, do Rio de Janeiro, estrela de um dos vídeos mais ferinos contra Dilma. Na última semana, o grupo foi encarregado de oferecer benefícios financeiros às igrejas e seus projetos sociais, uma forma de compra de votos que deverá ser investigada pelo Ministério Público Eleitoral. O cérebro do bureau fica no 20º andar do Joelma, ninho dos tucanos mais poderosos. A avalanche de baixarias que eles produzem é tão intensa que o PT já recebeu mais de cinco mil denúncias sobre mensagens e vídeos ofensivos à candidata petista. Apesar de toda essa estrutura, o presidenciável Serra procura se apresentar como vítima e cinicamente afirma que foi o PT que colocou o debate sobre o aborto na pauta eleitoral. Não foi (leia reportagem acima).


Para combater a disseminação de calúnias, a coordenação da campanha de Dilma criou, na semana passada, uma espécie de disque-denúncia em 59 cidades brasileiras. ?Há indícios veementes de que os panfletos apreendidos pela PF foram produzidos pela campanha de nosso adversário?, disse o deputado José Eduardo Martins Cardozo (PT-SP). ?A despesa é por conta da diocese de Guarulhos, que tem pleno direito a manifestar-se sobre questões que considera relevantes?, retrucou Serra. A alegação do tucano não é verdadeira, como explica o advogado Eduardo Nobre, especialista em direito eleitoral: ?Entidade religiosa não pode fazer doações para candidatos ou partidos políticos. Os bispos que assinaram o manifesto podem ser processados por calúnia e difamação e ser obrigados a pagar multa.

A campanha eleitoral rasteira deste ano é um marco na história do País. A onda de mensagens preconceituosas pulverizada na internet pelos grupos ultraconservadores agora aliados dos tucanos debocha do poder de dicernimento do eleitorado. Recorrendo a artimanhas subterrâneas, foge ao debate de questões vitais para o avanço do Brasil. O volume e a rapidez de propagação de falsidades são inéditos. E não há dúvida de onde partem: após o primeiro turno, numa reunião da cúpula tucana em Brasília, foi distribuído um panfleto com instruções de como propagar uma campanha anti-Dilma na internet. Num dos trechos, há recomendação para que militantes visitem o site do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, um dos fundadores da TFP (Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade), um dos grupos mais arraigados ao conservadorismo no País.

Apostando no peso do voto religioso, a central de boatos de Serra parece usar métodos da inquisição e fazer campanha para a sucessão de Bento XVI ? e não de Lula. Uma das providências desses militantes tucanos foi distribuir ?santinhos? com a foto e a assinatura de Serra, junto à inscrição ?Jesus é a verdade e a justiça?. Panfletos como este, porém, acabaram irritando muitos católicos. Menos de uma semana depois do vexame de Canindé, o evidente uso e abuso tucano de armações com radicais de ultradireita já dava sinais de fadiga. As feitiçarias e os supostos pecados começavam a recair sobre quem se esmerou em propagá-los. ?A Igreja não tem a tutela nem a missão de dominar a consciência política do povo?, disse padre Júlio Lancellotti, na terça-feira 19, durante um ato de apoio de juristas e intelectuais à candidata petista. O religioso e escritor Frei Betto fez coro: ?Bispos panfletários não falam em nome da Igreja nem da CNBB. É opinião pessoal, só que injuriosa, mentirosa e difamatória.

Colaborou Francisco Alves Filho

A hipocrisia do aborto

Teoria e prática de Mônica Serra

Nesta campanha, o casal Mônica e José Serra rompeu a fronteira entre o público e o privado ao dar conotação eleitoreira ao tema do aborto. Quando retirou o procedimento da categoria de saúde pública ou de foro íntimo, o casal abriu um flanco na própria privacidade. Serra vinha condenando de forma sistemática a descriminalização ao aborto. Mônica, por sua vez, havia sido ainda mais incisiva, intrometendo-se no assunto durante uma carreata com o marido em Duque de Caxias (RJ): ?Ela (Dilma) é a favor de matar as criancinhas?, disse a um ambulante que apoiava a candidata do PT. Não demorou para que o relato de um aborto feito por Mônica quando Serra vivia exilado no Chile virasse assunto público. O caso foi trazido à tona pela bailarina e coreógrafa Sheila Canevacci Ribeiro, 38 anos, ex-aluna de Mônica no curso de dança da Universidade de Campinas. Ao lado do marido, o antropólogo italiano Massimo Canevacci, Sheila assistia em sua casa a um debate entre os presidenciáveis quando Dilma Rousseff questionou Serra sobre ataques feito por Mônica. Surpreendida, Sheila se lembrou em detalhes de uma aula de psicologia ministrada em 1992 por Mônica para a sua turma na Unicamp. Ao discorrer sobre como os traumas da vida alteram os movimentos do corpo e se refletem no cotidiano, Mônica contara ao pequeno grupo de alunas do curso de dança que ficara marcada por um aborto que precisou fazer na época da ditadura, devido às condições políticas adversas em que vivia. ?Fiquei assustada com o duplo discurso de minha professora?, afirma Sheila, que na manhã seguinte colocou uma reflexão sobre o assunto em sua página na rede social Facebook.

A coreógrafa acreditava estar compartilhando a experiência com um grupo de amigos, mas o texto se espalhou, ganhou as páginas dos jornais e até uma nota oficial da campanha de Serra negando o aborto. Já Mônica e Serra não fizeram qualquer desmentido sobre o caso. Na sequência, Sheila recebeu milhares de apoios, mas também críticas, incluindo a de ter traído sua antiga professora. ?Foi ela quem traiu minha confiança como aluna e mulher?, diz a coreógrafa. ?Ela não é a mulher do padeiro, do dentista. Ela é a mulher de um candidato a presidente da República. O que ela fala e faz conta.



As atitudes das personalidades públicas contam tanto que chegam a provocar temor. Colega de classe de Sheila, a professora de dança C.N.X., 36 anos, também se lembra do depoimento de Mônica na universidade, mas pede para não ser identificada. Recém-aprovada em concurso de uma instituição federal, ela acredita que, se eleito presidente, Serra pode prejudicar sua carreira. Quanto à aula de 1992, C.N.X. conta que o grupo de alunas não chegava a dez e estava sentado em círculo quando Mônica comentou que um dos fatores que tinham alterado sua ?corporalidade? foi a vivência na ditadura e a necessidade de fazer o aborto. ?Ela queria ter o filho, não queria ter tirado?, diz a professora de dança. ?E eu fiquei muito chocada com o depoimento, pois na época era muito bobinha?, completa C.N.X., que passara no vestibular com apenas 16 anos e pela primeira vez vivia longe da família.

Na opinião da professora de dança, nada impede que, de 1992 para cá, Mônica tenha mudado de ideia: ?Mas ela não pode ser hipócrita. Sabe que o aborto é uma experiência traumática.? Trata-se também de um tabu no País, embora 5,3 milhões de brasileiras entre 18 e 39 anos tenham feito pelo menos um aborto, de acordo com o Ministério da Saúde. Mais da metade das brasileiras que se submete ao procedimento acaba internada devido a complicações da intervenção. Como se não bastasse, pode ser condenada a pena de um a três anos de detenção, como prevê o Código Penal de 1940, exceto para os casos de estupro ou de risco de morte da mãe. A mudança dessa lei ? ISTOÉ defende a descriminalização do aborto ? pode ser o primeiro passo para acabar com a hipocrisia e transformar a interrupção da gravidez em uma questão de saúde pública e de foro íntimo.


DOM ANGÉLICO CRITICA BISPO DA REGIONAL SUL 1 E O USO ELEITOREIRO DO ABORTO

São Paulo - O bispo Dom Angélico Sândalo Bernardino leu na manhã deste sábado (23), em São Paulo, uma carta pela “verdade e justiça nas eleições” deste ano. O ato ocorreu durante evento promovido por leigos da Igreja Católica, na região Brasilândia, zona leste. Na carta, Dom Angélico critica a atitude da Regional Sul 1 e a utilização eleitoreira do tema aborto.

OS CRISTÃOS E A DEFESA DA VERDADE E DA JUSTIÇA NAS ELEIÇÕES 2010

1. SINTO-ME honrado em estar com vocês e, nesta mesa, com a meu amado irmão, irmão dos pobres, Pe. Júlio Lancelotti, cuja mamãe Wilma Ferrari Lancellotti partiu para junto de Deus não faz muitos dias e a quem presto homenagem. Saúdo, de maneira particular, meus irmãos militantes nos diversos Partidos Políticos. Tal militância, na afirmação de Paulo VI, “é forma superior de solidariedade”.

2. Venho a este importante Ato na qualidade de Bispo emérito de Blumenau, na bela e Santa Catarina e, nesta condição, lhes falo, não em nome de Partido Político ou de candidata ou candidato.

3. Alem da importância de esclarecimento de alguns fatos “na defesa da verdade e da justiça”, fui motivado para esta reunião, pelo encontro que tive, após celebração da santa Missa, na comunidade Nossa Senhora Aparecida, Guaimim, no dia 10 último. Fui então procurado por Carlinhos e Sandra, apaixonado e jovem casal, acompanhado por meu irmão Néri e pai de Sandra A querida MARILI no céu, é a mãe de Carlinhos e de nosso valoroso Pe. Aécio! Eles estavam perplexos diante da atitude de alguns Bispos, nas presentes eleições, que vetavam candidatos (as) do PT, atribuindo-lhes apoio ao aborto! E o jovem casal, com entusiasmo, me perguntava “o que fazer?” e, ao mesmo tempo, entre sugestões várias, apresentava a de uma reunião como esta, perguntando-me se a ela, eu compareceria, tendo lhes eu respondido, imediatamente, SIM! Eis porque aqui estou!

Que Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida esteja conosco e, com o PAI, no envie o Espírito Santo para nossa iluminação.

A BEM DA VERDADE, DA JUSTIÇA, DEVO LHES DIZER:

1. A atual campanha eleitoral está marcada, viciada, por muita mentira, falsificação e distorção de fatos. A internet, de modo especial, tem sido palco de verdadeiras ações articuladas por redes sociais de difamação, em atentado à democracia, à liberdade de comunicação que não pode ser confundida com libertinagem a serviço da mentira.

2. A IGREJA, OFICIALMENTE, em âmbito nacional, nestas eleições, se pronunciou três vezes:
– ‘”DECLARAÇÃO SOBRE O MOMENTO POLITICO NACIONAL”, Assembléia Geral, 11 de maio de 2010.

– “NOTA DA CNBB NA PROXIMIDADE DAS ELEIÇÕES”, assinada pela Presidência da CNBB. Dom Geraldo Lyrio, Dom Luiz Soares Vieira, Dom Dimas Lara Barbosa, dia l6 de setembro de 2 010.
–“NOTA DA CNBB EM RELAÇÃO AO MOMENTO ELEITORAL”, de 8 de outubro 2010, assinada pela Presidência já citada.

O REGIONAL SUL 1 DA CNBB, no dia 29 e junho de 2010 publicou a declaração “VOTAR BEM”, assinada por sua Presidência, Dom Nelson Westrupp, Dom Benedito Beni dos Santos e Dom Airton José dos Santos.

Estas são DECLARAÇÕES, NOTAS, OFICIAIS DOS BISPOS DA IGREJA CATÓLICA, no Brasil, no Estado de São Paulo.

Elas insistem:

a) na urgência de Programas que estejam compromissados com a defesa da vida em todas as suas fases, desde a sua concepção até sua morte natural, bem como com a realização de Reforma Agrária, Reforma Política, Preservação do meio ambiente e com os direitos sociais fundamentais, como a criação de empregos e geração de rendas, melhoria da saúde e educação, da segurança pública, da habitação, justiça para todos...

b) Na linha destas orientações oficiais da Igreja. O senhor Cardeal D. Odilo P. Scherer, em carta de 20 agosto de 2010, aos Padres da Arquidiocese de São Paulo, entre outras, dá-lhes as seguintes orientações:
– Fique claro que a Igreja não tem opção oficial por Partidos ou Candidatos (as). Por isso, o Clero não deve envolver-se publicamente na campanha partidária (cfr. Can. 287; 572)
– “Nas missas e outras celebrações (homilias, cursos) não deve ser feita campanha explicita para candidatos ou partidos”.

c) A Igreja deve sim apresentar princípios, valores, critérios para que, lucidamente, o eleitor possa votar em candidatos com “ficha limpa”, comprometidos em seus programas com a promoção do bem comum, com a construção de sociedade justa e solidária.

INFELIZMENTE, destoando da orientação oficial da CNBB Nacional e Sul 1, irmão Bispo de Diocese localizada na grande São Paulo, na publicação, no início de julho de 2010, “EM QUEM NÃO VOTAR”, após considerações sobre o aborto e posicionamentos do PT, afirma “recomendamos a todos os verdadeiros cristãos a que não dêem seu voto à sra. Dilma Rousseff e demais candidatos que aprovam liberação do aborto”.

Na mesma linha, sem citar nome explicitamente, mas implicitamente sim, o inoportuno “APELO A TODOS OS BRASILEIROS E BRASILEIRAS” de 03 de julho de 2010, da Comissão em defesa da vida do Regional Sul 1 da CNBB. Este “Apelo”, foi abraçado pela Presidência e Comissão Representativa do Regional Sul 1 que “o acolhem e recomendam sua difusão”, no dia 26 de agosto de 2010.

Foi o prato cheio de que a oposição à candidata à Presidência da República se serviu, de maneira facciosa, parcial, para instrumentalizar a Igreja, dividir comunidades, tornar temas religiosos, o aborto, focos principais de debates, levando muitos a crerem que votar em Dilma, é contrariar a orientação da Igreja Católica. Ora,isto é mentira uma vez que a Igreja oficialmente não se posicionou a respeito de NOMES e PARTIDOS, PODENDO,POIS,O CATÓLICO CONSCIENTEMENTE VOTAR em Dilma, em candidatos do PT. Contra a instrumentalização do aborto para fins eleitorais, ergueu-se valorosa a voz profética de D. Demétrio Valentini, Bispo de Jales, no artigo “DESMONTE DE UMA FALÁCIA”.
FELIZMNETE, os BISPOS da Igreja Católica do Estado de São Paulo – Reg. Sul 1 da CNBB, na Assembléia de suas Igrejas, nos dias 15 a 17 de outubro, desfazem ambigüidades, dizem categórico basta à instrumentalização da religião na discussão eleitoral e deixam claro que:

a) – Não indicam nem vetam candidatos ou partidos e respeitam a decisão livre e autônoma de cada eleitor;

b) - Desaprovam a instrumentalização de suas Declarações e Notas e enfatizam que não patrocinam a impressão e a difusão de folhetos a favor ou contra candidatos. (Recorde-se a impressão-difusão de um destes folhetos se tornou caso de Polícia!).

Dom Milton Kenan Junior, querido vigário episcopal para a Região Brasilândia, em carta aos Padres desta Região, recomenda a leitura desta última Declaração dos Bispos do Estado de São Paulo nas celebrações de hoje e amanhã.

AINDA, DUAS OBSERVAÇÕES:

1. A realidade do ABORTO não pode ser transformada em questão eleitoreira! Pode e deve ser estudada, debatida, em profundidade. O aborto é atentado à vida, É crime. O Estado efetivamente deve promover políticas públicas a favor da VIDA, não da MORTE. Quanto a nós discípulos missionários de Jesus, lutemos contra a descriminalização do aborto. Mas, não paremos somente no debate da defesa da lei! Pode ser cômodo! Há mulheres que são colocadas em grande constrangimento, sofrimento, pobreza, desespero e que recorrem ao aborto, em LAMENTÁVEL E ERRADA OPÇÃO! O trabalho árduo de PREVENÇÃO é fundamental! Elas estão a nosso lado, não podemos desconhecê-las, em degradante omissão. Discípulos do Verbo de Deus que se fez CARNE, COMPROMETAMO-NOS COM ESTA REALIDADE. Estas mulheres – nossas irmãs –, para o Estado, frequentemente omisso em políticas públicas a favor da vida, se tornam problema de saúde pública e, de nossa parte, precisam ser tratadas com misericórdia, compreensão. A CAMPANHA DA FRATERNIDADE, no próximo ano, com seu tema: “Fraternidade e a vida no planeta” e o lema: “A criação geme como em dores de parto” vai aprofundar os temas aborto, eutanásia e todo desdobramento sagrado da vida, em nosso planeta, afirmou D Geraldo Lyrio, Presidente da CNBB, em entrevista,na última quinta feira,dia 21 de outubro.

Como seria ótimo se as Dioceses, a exemplo com o que acontece com a Arquidiocese de São Paulo, oferecessem às mulheres sofridas e tentadas pela pseudo-solução do aborto, braços abertos em realizações como a do AMPARO MATERNAL!

2. Às vésperas das eleições, peçamos à padroeira e Mãe do Brasil, Nossa Senhora Aparecida que proteja nosso País, o Povo brasileiro. Que as eleições não sejam ocasião para violências, ódios, divisões. Que os embates e debates nos amadureçam e nos façam crescer na compreensão mútua, na fraternidade. Nos meus 77 anos, gosto de repetir diante do destempero de muitos a respeito do Brasil, que confio na grandeza deste País, na maravilhosa fibra do Povo brasileiro. Diante de ataques apaixonados a nosso Presidente da República, não desconhecendo falhas em seu Governo, gosto de verificar que ele termina seu mandato com a admirável aprovação de 79% da população; é tido no Exterior, entre as “dez mais importantes personalidade do mundo”: é respeitado em sua política econômica e, em época de crise econômica que atinge a Europa e EE.UU de maneira profunda,conduz o Brasil em sério crescimento,com considerável aumento de empregos . Sem desconhecer os graves problemas que ainda nos atingem, sobretudo aos Pobres, insisto contra pessimistas e derrotistas, em repetir as palavras do poeta: “adora a terra em que nasceste, não há País como este”. Vamos, pois, avante, de esperança, em esperança, na esperança sempre, conscientes de que a construção de um Brasil cada vez melhor é possível, dependendo dos Poderes da República e da urgente colaboração, participação ativa, de todos nós!

Dom Angélico Sândalo Bernardino
São Paulo, 23 de outubro de 2010.

Fonte: Redação da Rede Brasil Atual – Publicado em 23/10/2010, 19:25http://www.redebrasilatual.com.br/temas/politica/dom-angelico-critica-bispos-da-regional-sul-1-e-o-uso-eleitoreiro-do-aborto