Bispos

O PAPA FOI INSTRUMENTALIZADO

Dom Tomás Balduino

O pior aconteceu nesse clima tenso, nervoso e apixonado de 2º turno: envolveram o Papa no nosso processo eleitoral. Nunca vi, em minha longa vida de bispo, um acontecimento como este. A coisa já está feita. Agora é esperar pelas conseqüências...

O que houve de errado e que está criando uma grande perplexidade em nossa Igreja? Todos nós bispos sabemos que o ministério do Papa inclui uma relação direta com todos os féis católicos e com cada um deles, com plenos poderes. É seu carisma. Os comentários de vários bispos ao discurso de Bento XVI salienta isso. Sabemos, por outro lado, que no governo da Igreja são reconhecidas, como legítimas, as instâncias intermediárias, com poderes definidos pelo Direito Canônico. Estas instâncias agem freqüentemente, com sabedoria, em base ao princípio de subsidiariedade, o que garante à Igreja um clima harmonioso e respeitoso levado pelo espírito de serviço, de comunhão e de colegialidade. Por esse princípio é dispensável o recurso à instância superior quando a instância colegiada pode resolver o problema, principalmente em casos complexos e espinhosos.

De fato, depois das denúncias contra a candidata Dilma Rousseff, por causa do aborto, houve apelos à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Esta, por sua Presidência, respondeu logo reafirmando “que a CNBB não indica nenhum candidato, e que a escolha é um ato livre e consciente de cada cidadão”.
Houve um atrito, pela imprensa, entre Dom Demétrio Valentini, bispo de Jales e D. Luís Bergonzini, bispo de Guarulhos. Dom Bergonzini, não satisfeito, talvez, com a nota ponderada da Presidência da Conferência tomou pessoalmente a decisão de recorrer diretamente ao Papa, com farta documentação, conforme ele declara a 12 de outubro.

Eis aí perigo! E já está armado. Ninguém nega este poder do Papa. O que causou estranheza a muitos de nós irmãos bispos foi o fato de envolver de forma simplista e apressada a pessoa do Papa numa conjuntura complexa, delicada e apaixonada, como esta do Brasil, às vésperas da eleição do 2º turno. A coisa pareceu até golpe de última hora, sem tempo de discutir o assunto. Isso tem antecedentes. Foi o golpe dado pela TV Globo no Lula, após o debate com o Collor, garantindo a este uma vitória fácil. Agora é possível que, no quadro de uma população majoritariamente católica, diante dos temas das imagens religiosas, do ensino religioso nas escolas, da moral do aborto, com as bênçãos do Papa, acabem saindo vitorioso o Serra, e derrotada a Dilma.

Afinal, estão em jogo só duas pessoas. Não há alternativa. O voto nulo nem é questão. Ou ganha a Dilma ou ganha o Serra. Em outras palavras a eventual retirada dos votos da Dilma significa claramente transferência de voto para o Serra e, provavelmente, a sua vitória.

Era uma vez uma mulher surpreendida em adultério. Congregaram-se contra ele várias pessoas importantes da cidade para apedrejá-la, conforme a lei. Era só ela, mulher, não o varão parceiro do adultério. Foi aí que irrompeu da multidão a voz enérgica e inesperada de um Profeta dizendo: “atire a primeira pedra aquele que não tiver pecado”.

A pergunta incômoda que está sendo levantada por toda parte é a seguinte: O Papa foi corretamente informado do que vai acontecer no Brasil com a vitória do Serra? Teve notícia do que as bases camponesas, indígenas, quilombolas, as organizações das mulheres e dos pobres estão esperando nesta hora?

Perguntaram ao Serra: “você vai fazer reforma agrária” Resposta: vou, sim, mas sem o MST. Muitos de nós temos lembranças amargas da pomposa organização do campo na Ditadura militar, porém com a criminalização e a dura repressão das organizações sociais dos camponeses. No governo FHC não foi diferente. É o modelo em que o Serra se espelha. Falam tanto em vida, porém, para o projeto que o Serra assume como seu, a vida não entra como fundamento ético, menos ainda como prioridade política. Para que tudo esteja a serviço do mercado capitalista globalizado, o aprofundamento e alastramento da miséria e a devastação da Mãe Terra contam, no seu projeto, apenas como “custos naturais do progresso”. A busca do progresso vem junto com a transformação, da água, das matas, da energia, enfim,  de todo o acervo nacional em mercadoria que passa a integrar o patrimônio privado da  minoria rica. Com relação ao aborto, o atual pomo da discórdia, nada garante que o Serra não liberalize a legislação sobre o aborto. Com efeito, foi assim que ele, o Fernando Henrique Cardoso e tantos outros “neoliberais” fizeram nos oito anos de governo.

Para terminar relembro o belo gesto de congratulação da Presidência da CNBB com o povo brasileiro pelo exercício da cidadania no 1º turno das eleições gerais. Como não formular votos para que hoje. mais do nunca, o povo brasileiro faça valer sua condição de sujeito democrático, adulto e autônomo neste histórico 2º turno?
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Dom Angélico critica bispo da regional Sul 1 e o uso
eleitoreiro do aborto

Por: Redação da Rede Brasil Atual

São Paulo - O bispo Dom Angélico Sândalo Bernardino leu na manhã deste sábado (23), em São Paulo, uma carta pela 'verdade e justiça nas eleições' deste ano. O ato ocorreu durante evento promovido por leigos da Igreja Católica, na região Brasilândia, zona norte. Na carta, Dom Angelico critica a atitude da Regional Sul 1 e a utilização eleitoreira do tema aborto.

Leia abaixo:

Os cristãos e a defesa da verdade e da justiça nas eleições 2010

1.SINTO-ME honrado em estar com vocês  e , nesta mesa, com a meu amado irmão, irmão dos pobres, Pe. Júlio Lancelotti,cuja mamãe  Wilma Ferrari Lancellotti partiu para junto de Deus não faz muitos dias e a quem presto homenagem. Saúdo,de maneira particular,meus irmãos  militantes nos diversos Partidos Políticos . Tal militância,na afirmação de Paulo VI, “ é forma superior de solidariedade”.

2.Venho a este importante Ato na qualidade de Bispo emérito de Blumenau,na bela e Santa Catarina e,nesta condição, lhes falo,não em nome de Partido Político ou de candidata ou candidato.

3.Além da importância de esclarecimento de alguns fatos “na defesa da verdade e da justiça“,fui motivado para esta reunião, pelo encontro que tive, após celebração da santa Missa, na comunidade Nossa Senhora Aparecida, Guaimim, no dia 10 último. Fui então procurado por Carlinhos e Sandra, apaixonado e jovem casal,acompanhado por meu irmão Néri e pai de Sandra  A querida  MARILI no céu, é a mãe de Carlinhos  e de nosso valoroso Pe. Aécio! Eles estavam perplexos diante da atitude de alguns Bispos,nas presentes eleições, que vetavam candidatos (as) do PT,,atribuindo-lhes apoio ao aborto! E o jovem casal,com entusiasmo, me perguntava “ o que fazer ?” e,ao mesmo tempo, entre sugestões várias, apresentava a de uma reunião como esta,perguntando-me se a ela, eu compareceria, tendo lhes eu respondido, imediatamente, SIM ! Eis porque aqui estou!

Que Jesus Cristo, Caminho,Verdade e Vida esteja conosco e,com o PAI,no envie o Espírito Santo para nossa iluminação.

A bem da verdade, da justiça,devo lhes dizer:

1. A atual campanha eleitoral está marcada, viciada, por muita mentira, falsificação e distorção de fatos. A internet, de modo especial, tem sido palco de verdadeiras ações articuladas por redes sociais de difamação, em atentado à democracia, à liberdade de comunicação que não pode ser confundida com libertinagem a serviço da mentira.

2. A IGREJA , OFICIALMENTE, em âmbito nacional, nestas eleições, se pronunciou três vezes:
- "DECLARAÇÃO SOBRE O MOMENTO POLITICO NACIONAl” , Assembléia Geral, 11 de maio de 2010.

-  “NOTA DA CNBB NA PROXIMIDADE DAS ELEIÇÕES”, assinada pela Presidência da CNBB. Dom Geraldo Lyrio, Dom  Luiz Soares Vieira, Dom Dimas Lara  Barbosa, dia l6 de setembro de 2 010.
-“NOTA DA CNBB EM RELAÇÃO AO MOMENTO ELEITORAL “,  de 8 de  outubro  2010,  assinada pela Presidencia já citada.

O REGIONAL SUL 1 DA CNBB , no dia 29 e junho de 2010 publicou a declaração “  VOTAR  BEM “,  assinada por sua Presidência, Dom Nelson Westrupp, Dom Benedito Beni dos Santos e Dom Airton José dos Santos.

Estas são DECLARAÇÕES, NOTAS, OFICIAIS DOS BISPOS DA IGREJA CATÓLICA, no Brasil,no Estado de São Paulo.

Elas insistem :

a)na urgência de Programas  que estejam compromissados com a defesa da vida em todas as suas fases, desde a sua concepção até sua morte natural, bem como com a realização de Reforma Agrária, Reforma Política, Preservação do meio ambiente e com os direitos sociais fundamentais, como a criação de empregos e geração de rendas, melhoria da saúde e educação, da segurança pública, da habitação,justiça para todos....

b)Na linha destas orientações oficiais da Igreja. O senhor Cardeal D. Odilo P. Scherer, em carta de 20  agosto de 2010, aos Padres da Arquidiocese de São Paulo, entre outras, dá-lhes as seguintes orientações:

•Fique claro que a Igreja não tem opção oficial por Partidos ou Candidatos (as). Por isso,o Clero não deve envolver-se publicamente na campanha partidária ( cfr. Can. 287 ; 572)

•Nas missas e outras celebrações ( homilias,cursos) não deve ser feita campanha explicita para candidatos ou partidos".

c)A Igreja deve sim apresentar princípios,valores, critérios para que,lucidamente, o eleitor possa votar em candidatos com “ ficha limpa”, comprometidos em seus programas com a promoção do bem comum, com a construção de sociedade justa e solidária.

INFELIZMENTE, destoando da orientação oficial da  CNBB Nacional e Sul 1, irmão Bispo de Diocese localizada na grande São Paulo, na publicação , no início de julho de 2010, “ EM QUEM NÃO VOTAR “, após considerações sobre o aborto e posicionamentos do PT, afirma “ recomendamos a todos os verdadeiros cristãos a que não dêem seu voto à sra.  Dilma Rousseff e demais candidatos que aprovam liberação do aborto”.

Na mesma linha, sem citar nome explicitamente mas implicitamente sim, o inoportuno  ‘  ‘APELO A TODOS OS BRASILEIROS E BRASILEIRAS “ de 3 de julho de 2010, da Comissão em defesa da vida do Regional Sul 1 da CNBB,c. Este  “ Apelo”,  foi abraçado pela Presidência e Comissão Representativa do Regional Sul 1  que “ o acolhem e recomendam sua difusão”, no dia 26 de agosto de 2010.

Foi o prato cheio de que a oposição à candidata à Presidência da República se serviu, de maneira facciosa, parcial, para instrumentalizar a Igreja, dividir  comunidades, tornar   temas religiosos, o  aborto, focos principais de debates, levando muitos a crerem que votar em Dilma ,  é contrariar a orientação da Igreja Católica. Ora,isto é  mentira uma vez que a Igreja oficialmente não se posicionou a respeito de NOMES e  PARTIDOS, PODENDO,POIS,O CATÓLICO CONSCIENTEMENTE VOTAR em Dilma, em candidatos do PT.  Contra a instrumentalização do aborto para fins eleitorais,  ergueu-se valorosa a voz profética de D. Demétrio Valentini,  Bispo de Jales, no artigo “  DESMONTE DE UMA FALÁCIA”.

FELIZMNETE, os  BISPOS  da Igreja Católica do Estado de São Paulo – Reg. Sul 1 da CNBB, na Assembléia de suas Igrejas, nos dias 15 a 17 de outubro, desfazem ambigüidades, dizem categórico basta à instrumentalização da religião na discussão eleitoral e deixam claro que:

a)– Não indicam nem vetam candidatos ou partidos e respeitam a decisão livre e autônoma de cada eleitor;

b)- Desaprovam a instrumentalização de suas Declarações e Notas e enfatizam que não patrocinam a impressão e a difusão de folhetos a favor ou contra candidatos. (Recorde-se a impressão-difusão de um destes folhetos se tornou caso de Polícia!).

Dom Milton Kenan Junior, querido vigário episcopal para a Região Brasilândia, em carta aos Padres desta Região, recomenda a leitura desta última Declaração dos Bispos do Estado de São Paulo nas celebrações  de hoje e amanhã.

AINDA,DUAS OBSERVAÇÕES:

1. A  realidade do  ABORTO  não pode ser transformada em questão eleitoreira! Pode e deve ser estudada,debatida, em profundidade .O aborto é atentado à vida, É crime.   O Estado efetivamente deve promover políticas públicas a favor da VIDA, não da  MORTE. Quanto a nós discípulos missionários de Jesus, lutemos contra a descriminalização do abrto. Mas,não  paremos  somente no debate  da defesa da lei! Pode ser cômodo!  Há mulheres que são colocadas em grande constrangimento, sofrimento,pobreza, desespero e que recorrem ao aborto, em  LAMENTÁVEL E ERRADA OPÇÃO! O trabalho árduo de  PREVENÇÃO é fundamental ! Elas estão a nosso lado,não podemos desconhecê-las,em degradante omissão. Discípulos do Verbo de Deus que se fez  CARNE, COMPROMETAMO-NOS COM ESTA REALIDADE. Estas mulheres – nossas irmãs – , para o Estado,frequentemente omisso em políticas públicas a favor da vida,  se tornam problema de saúde  pública e, de nossa parte, precisam ser tratadas com misericórdia,compreensão.    A CAMPANHA DA FRATERNIDADE,no próximo ano,com seu tema: “ Fraternidade e a vida no planeta” e o lema: “A criação geme como em dores de parto” vai aprofundar os temas aborto,eutanásia e todo desdobramento sagrado da vida,em nosso planeta,afirmou D Geraldo Lyrio,Presidente da CNBB,em entrevista,na última quinta feira,dia 21 de outubro.

Como seria ótimo se as Dioceses,a exemplo com o que acontece com a Arquidiocese de São Paulo, oferecessem às mulheres sofridas e tentadas pela  pseudo-solução do aborto, braços abertos em realizações como a do  AMPARO MATERNAL !

2.Às vésperas das eleições,peçamos à padroeira e Mãe do Brasil,Nossa Senhora Aparecida que proteja nosso País,o Povo brasileiro. Que as eleições não sejam ocasião para violências,ódios,divisões. Que os embates e debates nos amadureçam  e nos façam crescer na compreensão mútua,na fraternidade. Nos meus 77 anos, gosto de repetir diante do destempero de muitos a respeito do Brasil , que confio na grandeza deste País, na maravilhosa fibra do Povo brasileiro . Diante de ataques apaixonados a nosso  Presidente da República, não desconhecendo falhas em seu Governo, gosto de verificar que ele termina seu mandato com a admirável aprovação de 79%  da população  ; é tido no Exterior,  entre as  “dez mais importantes personalidade do mundo”: é  respeitado em sua política econômica e , em época de crise econômica que atinge a Europa e EE.UU de maneira profunda,conduz o Brasil  em  sério crescimento,com considerável aumento de empregos . Sem desconhecer  os graves problemas que ainda nos atingem,sobretudo aos Pobres,  insisto contra pessimistas e derrotistas,  em repetir as palavras do poeta: “ adora a terra em que nasceste ,não há País como este”. Vamos,pois,avante,de esperança,em esperança,na esperança sempre , conscientes de que a construção de um Brasil  cada vez melhor é possível,  dependendo dos Poderes da República e da urgente colaboração,participação ativa,  de todos nós!

Dom Angélico Sândalo Bernardino
São Paulo, 23 de outubro de 2010.

Fonte: http://www.redebrasilatual.com.br/temas/politica/dom-angelico-critica-bispos-da-regional-sul-1-e-o-uso-eleitoreiro-do-aborto

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REGENERAR A CAMPANHA

*Dom Demétrio Valentini

Temos pela frente mais uma semana de campanha eleitoral, em segundo turno para a Presidência da República.

Viria bem a propósito uma sugestão: quem sabe nesta semana daria para regenerar a campanha, livrando-a de sua mediocridade, e de muitos equívocos que a caracterizaram até aqui?

Quem sabe, ainda daria para debater propostas concretas de governo para os próximos quatro anos, sem perder de vista, claro, as perspectivas de um projeto de Brasil a longo prazo. Realizar em torno destas propostas uma discussão franca, aberta, aprofundada, procurando garantir a viabilidade de tudo o que cada um pretende fazer.

A discussão poderia ser conduzida pelos dois candidatos, mas poderia se estender aos chefes dos partidos, visando o engajamento dos parlamentares para a formulação e execução dos planos de governo.
Poderia, poderia, poderia!

Mas infelizmente não vai acontecer. Está mais do que evidente que não existe ambiente para isto. A campanha já foi contaminada pelo vírus dos ataques pessoais entre os candidatos, na tentativa de desmerecer o adversário e solapar sua imagem junto aos eleitores.

Seria ingenuidade pensar que nesta última semana a campanha vai melhorar. Os ataques vão continuar, as tentativas de desestabilização também. Nada vai ser alterado. As eleições poderiam ser feitas neste domingo, embora cada lado esteja pensando como aproveitar estes dias que ainda faltam para talvez desferir um golpe mais certeiro que produza um efeito mais evidente, fazendo pender a balança para o seu lado.

Portanto, está anunciada mais uma semana de encenação inútil, de promessas infundadas. Esta campanha passará para a história como a mais suja já realizada no Brasil, levantando grandes apreensões sobre as futuras campanhas, se não forem tomadas em tempo sábias providências, a serem transformadas em leis claras e severas, capazes de coibir os abusos.

Dado que as coisas assim estão, vamos nos alertando para o exercício do discernimento. É importante conferir como é composta a pauta dos noticiários televisivos, a capa das revistas, a primeira página dos grandes jornais. Numa aparente e elegante neutralidade, vão desfilando em sequência matérias trazidas à tona e enfileiradas com o único escopo de desfazer a imagem do adversário. Sim, do adversário, porque os grandes meios de comunicação sabem muito bem escolher quem é o seu candidato, e quem é o seu adversário. E não vão poupar nenhum cartucho que julgarem capaz de causar estrago efetivo.

Esta é a realidade política neste país chamado Brasil.

O que fazer? Valorizar ainda mais o voto! É com ele que podemos frustrar quem faz da política um meio de conseguir o poder, para colocá-lo a serviço dos seus interesses pessoais e corporativos, instrumentalizando a fé e as instituições eclesiais.

O voto é nossa arma verdadeira. Ele é a pequena pedra que Davi colocou em sua funda, no combate contra o gigante Golias. A verdadeira vitória eleitoral, desta vez, não é em primeiro lugar "ganhar a eleição", mas derrotar as trapaças eleitorais. Isto a gente faz demonstrando que votamos, não levados pelas falsas acusações que se propagaram em abundância nesta campanha, mas pela vontade livre de cada eleitor, definida a partir da proposta de governo que cada eleitor achar mais conveniente para todo o povo brasileiro e para o futuro do nosso país.

*Dom Demetrio Valentini
Bispo Diocesano de Jales
Presidente da Caritas Brasileira

Fonte: Adital
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Dom Luiz Carlos Eccel, Bispo Diocesano de Caçador (SC)


EM RELAÇÃO AO SEGUNDO TURNO DAS ELEIÇÕES

Bispo Diocesano de Caçador, SC
Dom Luiz Carlos Eccel

Desde que fiquei sabendo das candidaturas à Presidência da República, tive uma só atitude: não quero subestimar nenhum dos(as) candidatos(as), pois não sou melhor do que ninguém, e muito menos dono da verdade.

Pensava: aquele(a) que ganhar fará o melhor pelo nosso Brasil, pois irá se assessorar de pessoas competentes e honestas, e basta.

Passados alguns dias, iniciaram as propagandas eleitorais. Subitamente, a minha caixa de correio foi tomada por uma "avalanche" de e-mails contra uma candidata apenas, a Dilma Rousseff. Preciso dizer com todas as palavras, que fiquei indignado.

É importante dizer que logo que saiu a lista dos candidatos eu fiz a minha escolha.

Mas, o fato de ver diariamente o "tsunami" de "denúncias" contra esta candidata, na minha caixa de correio, revelando total falta de respeito para comigo e também para com a candidata, levou-me a refletir e a pesquisar. Perguntava-me: por que somente contra ela? Devo ser honesto e afirmar que não recebi nenhuma "matéria" contra qualquer outro(a) candidato(a).

A reflexão levou-me até Jesus Cristo, que um dia disse: "Quem não tiver pecado, atire a primeira pedra" (Jo 8,7).

Por que estão jogando pedras só na Dilma? Em 1Jo 1,10 está escrito: "Quem diz não ter pecados, faz a Deus de mentiroso". Conclusão: Os que jogam pedras não têm pecados. Eis o grande problema. Estão tomando o lugar de Deus. Mas, Ele mesmo, não tendo pecado, não jogou pedras na pecadora. Isto é muito sério. Na verdade quem joga pedras está negando Deus. E o saudoso Beato, Papa João XXIII, que nos chamou a todos, através do Concílio Vaticano II, a sermos uma Igreja misericordiosa e aberta aos novos valores, deixando o ranço de lado, pelo sopro Vivificante do Espírito Santo, disse: "A pessoa que deixa Deus de lado, se torna perigosa para si e para as outras pessoas".

E agora? A conversão é graça de Deus para pessoas abertas a Sua Misericórdia. "Os misericordiosos, alcançarão misericórdia" (Mt 5, 7) Mas as pessoas auto-suficientes, donas da verdade, prepotentes, por isso sempre prontas a jogar pedras nos outros, estão muito longe de "Deus, que é Amor" (1Jo 4,8).

Assim, concluí: Todos somos pecadores, mas uma só pessoa está levando pedradas nesta campanha eleitoral à presidência do Brasil. Aí, eu que já havia escolhido o meu candidato, fiz uma nova escolha. Decidi, diante de Deus, que esta mulher apedrejada é a minha candidata para presidir o Brasil. Tem também um velho ditado popular que diz: "Só se atira pedras em árvores que dão frutos bons". E pesquisando descobri que esta candidata, enquanto ministra, produziu muito e bons frutos.

Procurei me aprofundar mais no conhecimento da minha candidata. Descobri que é uma mulher honrada e séria. Arriscou sua vida, durante a ditadura militar, da tirania do poder que oprime, tortura e mata. Sim, a Dilma foi presa e torturada por querer um Brasil democrático, fraterno, solidário, com vida e dignidade para todas as pessoas e não somente para algumas.

Então pensei: é exatamente isto que o Pai do Céu quis e continua querendo para todas as pessoas. Esta questão somou vários pontos para a candidata.

Nosso saudoso e amado Dom Helder Camara dizia: "Quando reparto o meu pão com os pobres, me chamam de santo, mas quando pergunto pelas causas da pobreza, me chamam de comunista".

Até hoje, as pessoas verdadeiramente comprometidas com um país mais justo e igualitário, e para isso precisa de projetos sérios de transformação, continuam sendo taxadas assim. Algumas pessoas, por incrível que pareça, em pleno século XXI, ainda conseguem meter medo numa certa camada da população com este jargão.

Analisei também o desempenho da candidata quando era funcionária no governo estadual e federal. Os frutos bons são abundantes, especialmente para os menos favorecidos. Sim, saiu-se muito bem. Mais um ponto para ela.

Percebi também que, levando pedradas, não retribuía, e isto está de acordo com o Evangelho. Mais um ponto para a Dilma.

Comecei a analisar as suas palavras, idéias e projetos. Uma mulher inteligente, sábia, abnegada, perspicaz e atualizada. Outro ponto para esta mulher.

Também fui apurar as "denúncias" que enchiam a minha caixa de correio. Descobri montagens falsas, mentiras e calúnias. Aí novamente lembrei-me de Jesus que disse: "O diabo é mentiroso e pai da mentira" (Jo 8,44).

Não tive mais dúvidas, é na Dilma que irei votar, independentemente de partido político.

Ninguém pode galgar degraus pisando nos outros. Isto não é nem humano, muito menos cristão.

Quem deseja servir o povo, precisa jogar limpo. Pessoa religiosa não é a que fica dizendo Senhor, Senhor..., mas aquela que faz a vontade de Deus. E a vontade de Deus é "que todos tenham vida e a tenham plenamente" (Jo 10,10).

A vontade de Deus é que todas as pessoas vivam como irmãos e irmãs, no respeito à vida de todos os seres. Descobri que a candidata Dilma tem este desejo profundo. Aliás, é o seu grande sonho que, juntamente com todo o povo, quer tornar realidade.

No domingo à noite, dia 10 de outubro, assisti ao debate promovido pela BAND. Um dos dons que Deus me concedeu foi o de conhecer as pessoas pelos seus olhos. Não costumo revelar o que vejo e sinto para todas as pessoas.

Durante o debate meus ouvidos estavam atentos às palavras dos candidatos, mas meus olhos foram atraídos para a expressão da sua face e a delicadeza do seu olhar.

Percebi duas atitudes muito interessantes: 1)Sua face estava sempre serena e seu leve  sorriso não era forçado e nem transmitia falsidade. 2)Seus olhos, que são espelhos de sua alma, transmitiam segurança, confiança, ternura e sinceridade. Estas qualidades agregaram mais alguns pontos a Dilma.

Como nós precisamos destas atitudes que na verdade são qualidades e dons de Deus! Dilma você passou pelo gelo da dor, tantas vezes, e por isso chegou ao incêndio do verdadeiro amor que vem do alto.
Nosso saudoso e amado Dom Luciano Mendes de Almeida dizia: "a bondade rompe todas as barreiras". Avante minha irmã! Deus está com você.

Cuide-se! Continue sendo bondosa e a confiar nas suas assessorias. Mas mantenha, discretamente, o controle de tudo para evitar desgostos e desgastes maiores e desnecessários, pois somos todos passíveis de erros. Mantenha-se sempre alerta e busque momentos de descanso na oração silenciosa para que Deus, que é Pai e tem a ternura da Mãe, lhe fale ao coração, plenificando-o de alegria e coragem. Dom Angélico, meu grande amigo e irmão, sempre diz: "Quem não reza vira monstro".

Dilma, desculpe eu falar abertamente que não iria votar em você. Busco ser sincero como você. Mas tenha certeza de que continuarei a pedir a Deus que a ilumine e abençoe, chegando ou não à Presidência. Não estou falando em nome da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), mas como cidadão e como Bispo da Igreja Católica, santa e pecadora, que deseja o melhor para o Povo de Deus.

Pessoalmente creio que é esta a hora de uma mulher experiente, honesta e competente, como você, chegar lá e continuar a fazer deste país, uma nação que defenda e proteja a vida de todos(as), desde a concepção até a morte natural.

Sim, neste segundo tempo a bola vai rolar elegantemente pelo gramado e balançar a rede!

Caçador, 12 de outubro de 2010
(solenidade de N. Sra. Aparecida. Padroeira do Brasil).
Dom Luiz Carlos Eccel, Bispo Diocesano de CaçadorFonte: http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=51642
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Dom Demétrio Valentini, presidente da Cáritas Brasileira
  
DESMONTE DE UMA FALÁCIA

D.Demétrio Valentini
Presidente da Cáritas Brasileira

A questão do aborto está sendo instrumentalizada para fins eleitorais. Esta situação precisa ser esclarecida e  denunciada.

Está sendo usada uma questão que merece toda a atenção e isenção de ânimo para ser bem situada e assumida com responsabilidade, e que não pode ficar exposta a manobras eleitorais, amparadas em sofismas enganadores.

Nesta campanha eleitoral está havendo uma dupla falácia, que precisa ser desmontada.

Em primeiro lugar, se invoca a autoridade da CNBB para posições que não são da entidade, nem contam com o apoio dela, mas se apresentam como se fossem manifestações oficiais da CNBB.

Em primeiro lugar, se invoca a autoridade da CNBB para posições que não são da entidade, nem contam com o apoio dela, mas se apresentam como se fossem manifestações oficiais da CNBB.

Em segundo lugar, se invoca uma causa de valor indiscutível e fundamental, como é a questão da vida, e se faz desta causa um instrumento para acusar de abortistas os adversários políticos, que assim passam a ser condenados como se estivessem contra a vida e a favor do aborto.

Concretamente, para deixar mais clara a falácia, e para urgir o seu desmonte:

A Presidência do Regional Sul 1 da CNBB incorreu, no mínimo, em sério equívoco quando apoiou a manifestação de comissões diocesanas, que sinalizavam claramente que não era para votar nos candidatos do PT, em especial na candidata Dilma.
   
Ora, os Bispos do Regional já tinham manifestado oficialmente sua posição diante do processo eleitoral. Por que a Presidência do Regional precisava dar apoio a um documento cujo teor evidentemente não correspondia à tradição de imparcialidade da CNBB?  Esta atitude da Presidência do Regional Sul 1 compromete  a credibilidade da CNBB,  se não contar com urgente esclarecimento, que não foi feito ainda, alertando sobre o uso eleitoral que está sendo feito deste documento assinado pelos três bispos da presidência do Regional.
 
Esta falácia ainda está produzindo conseqüências. Pois no próprio dia das eleições foram distribuídos nas igrejas, ao arrepio da Lei Eleitoral, milhares de folhetos com a nota do Regional Sul 1, como se fosse um texto patrocinado pela CNBB Nacional. E enquanto este equívoco não for desfeito, infelizmente a declaração da Presidência do Regional Sul 1 da CNBB continua  à disposição da volúpia desonesta  de quem a está explorando eleitoralmente. Prova deste fato lamentável é a fartura como está sendo impressa e distribuída.

Diante da gravidade deste fato, é bem vindo um esclarecedor pronunciamento da Presidência Nacional da CNBB, que honrará a tradição de prudência e de imparcialidade da instituição.

A outra falácia é mais sutil, e mais perversa. Consiste em arvorar-se em defensores da vida, para acusar de abortistas os adversários políticos, para assim impugná-los como candidatos, alegando que não podem receber o voto dos católicos.

Usam de artifício, para fazerem de uma causa justa o pretexto de propaganda política contra seus adversários,  e o que é pior, invocando para isto a fé cristã e a Igreja Católica. 

Mas esta falácia não pára aí. Existe nela uma clara posição ideológica, traduzida em opção política reacionária. Nunca relacionam o aborto com as políticas sociais que precisam ser empreendidas em favor da vida.

Votam, sem constrangimento, no sistema que produz a morte, e se declaram em favor da vida.

Em  nome da fé, julgam-se  no direito de condenar todos os que discordam de suas opções políticas. Pretendem revestir de honestidade, uma manobra que não consegue esconder seu intento eleitoral.  
 
Diante desta situação, são importantes, e necessários, os esclarecimentos. Mais importante ainda é a vigilância do eleitor, que tem todo o direito de saber das coisas, também aquelas tramadas  com astúcia e malícia.

Dom Demetrio Valentini, Bispo Diocesano de Jales Fonte: http://www.jornaldejales.com.br/
Edição nº 2.376 - 10 de outubro de 2010 p.1-02
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Dom Eugênio Rixen - Bispo Diocesano de Goiás (GO)


Goiás, 05 de outubro de 2010
Queridos/as irmãos/ãs na fé,

A Igreja tem como dever ser fiel a Jesus Cristo e divulgar a justiça e a verdade.

Diante de falsas denúncias, gostaria, como bispo de Goiás fazer os seguintes esclarecimentos quanto ao 2º turno das eleições, tanto para presidente, como para governador.

A Igreja Católica, como já disse numa carta anterior, não apóia nenhum candidato. Alguns bispos católicos, principalmente do estado de São Paulo ou ligados a movimentos conservadores, declararam publicamente para não votar na candidata do PT. Esta, nunca falou que “nem Jesus Cristo tiraria esta vitória”.

A Igreja defende o respeito à vida em todos os aspectos: educação, moradia, trabalho, segurança desde a infância até a velhice.

O que está em questão nestas eleições são dois projetos diferentes sobre o futuro do nosso país. Um que defende os interesses dos pobres, mais justiça social e melhor distribuição de renda nacional. Outro, quer manter os privilégios daqueles que sempre marginalizaram a classe dos excluídos. Queremos um país com mais justiça social, terra para os pobres, o limite de propriedade de terra, a defesa do meio ambiente, especialmente do cerrado, tão agredido pelo agro negócio.

Queremos votar de maneira consciente e não nos deixar manipular por falsas promessas e informações gananciosas; escolher candidatos que governem com a participação do povo e a sociedade organizada.

Queremos um Brasil mais justo e solidário, onde os pobres também têm direito a uma vida plena.