Cartas

CARTA À DIREÇÃO DA TV CANÇÃO NOVA

*Pe. Pedrinho Guareschi

Prezados amigos da Direção da TV Canção Nova:

Escrevemos essa carta aberta para, humildemente, solicitarmos aos responsáveis por esse serviço público, como é um canal de televisão, que se proponham uma séria reflexão sobre um fato que espantou e deixou extremamente preocupados a muitas pessoas da igreja e da sociedade. Sou sacerdote religioso, lecionei 40 anos na PUCRS, e agora sou professor da UFRGS, e sempre trabalhei no campo da ética, principalmente nos aspectos ligados aos meios de comunicação. Na década de 1990 lecionei, por 9 anos, alternadamente (ano sim, ano não) na Academia Alfonsiana, de Roma, ligada à Universidade Lateranense, onde discutia a disciplina de ética e mídia.

Há dois dias meus alunos de mestrado e doutorado de psicologia e comunicação desta Universidade, me trouxeram, constrangidos, cópia escrita* e vídeo de um sermão que o Pe. José Augusto teria proferido (acessado em 15 de outubro de 2010).

Eu não acreditaria se não o ouvisse e o lesse. O que me leva a escrever é, principalmente, como uma pessoa como essa, sem os mínimos conhecimentos do que é uma televisão, que é uma concessão temporária (15 anos), um serviço público, que deve se reger por princípios claramente definidos no artigo 221 da Constituição Brasileira, pode usá-la, mesmo que seja dentro de uma liturgia, para fazer tais afirmações. Falta a tal pessoa, desculpem, um mínimo de bom senso (já não falo educação, formação geral, teologia, ética), antes de se colocar diante de um microfone, fazendo-se de vítima, criando fantasmas, fazendo afirmações absolutistas, afirmando coisas que são evidentemente falsas porque absolutizadas, jogando partidos e posições de pessoas numa vala comum...

Tais afirmações não são compatíveis com uma sociedade democrática, onde se respeitam as pessoas, onde não existem detentores absolutos da verdade. Como uma pessoa assim chega a tal ponto? Não há pessoas que o possam acompanhar e ajudá-lo a refletir? Quem não percebe que há um desequilíbrio psicológico nessa pessoa? Como colocá-lo, então, diante das câmeras? Onde a responsabilidade moral e política diante das afirmações que fez?

Desculpem, mas vi-me na obrigação de enviar isso aos responsáveis por essa emissora pois me sinto constrangido e estou vendo quanto mal uma pessoa a quem falta equilíbrio e bom senso pode causar. O que me consola é que as pessoas, o povo de Deus, ainda tem bom senso. Infelizmente alguns, contudo, podem ser conduzidas a um fanatismo que seria extremamente maléfico e poderia causar enormes danos à Igreja e à sociedade. Sabemos da importância da TV Canção Nova e do quanto vocês frisam o respeito e a dignidade humana em sua programação. Tudo bem se o prejudicado fosse apenas o citado sacerdote. No entanto, em situações assim é a credibilidade da emissora e da Igreja que estão em jogo.

Em tempo: trabalhei três anos na CNBB nacional, como assessor para assuntos sociais, com D. Luciano, na década de 1980, e li a nota que a CNBB escreveu, juntamente com a nota da Comissão Justiça e Paz, sobre as eleições. Tal postura se distancia totalmente das afirmações sem fundamento do nosso amigo. Como fica essa emissora diante disso?
 
19/12/2010

*Pedrinho Guareschi, padre redentorista, professor e pesquisador

Fonte:http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=37420

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Carta Aberta à CNBB
*Marcelo Zelic
Como membro da CJP-SP fui chamado pelo Deputado Estadual Adriano Diogo a registrar o flagrante de crime eleitoral na Editora Gráfica Pana LTDA, que foi contratada pelo Bispo Diocesano de Guarulhos para reproduzir 2,1 milhões de panfletos falsos da CNBB e estava para distribuir, ontem, pelo país 1,1 milhão de cópias do material e fiz estes registros, por ter ciência da orientação de nossa Comissão Brasileira de Justiça e Paz a partir do documento que li, recebido dias atrás sobre a falsificação de panfleto em nome da CNBB.
A encomenda foi realizada a pedido Mitra Diocesana de Guarulhos conforme imagens abaixo, a saber: email de encomenda, cópia do boleto bancário e carta de Dom Luiz Gonzaga Bergonzini ao Pe. Jean Rogers Rodrigo de Souza, solicitando distribuição, que encaminho também anexo para divulgação, uma vez que constituem a documentação probatória da encomenda e do crime eleitoral praticado.
A gráfica iria entregar 2,1 milhões de panfletos, cuja informação fornecida pelo gerente da empresa pego em flagrante, pode variar em sua tiragem de 20 a 50 milhões. Foram apreendidos somente 1 milhão dos panfletos falsos, cuja liminar de apreensão já foi expedida pelo juiz responsável. Isso significa que muitos panfletos podem ter sido feitos em outras gráficas e continuarão a ser distribuído pelo país, caso não haja uma ação efetiva da CNBB.
Penso que nossos Bispos devam considerar, dada a gravidade dos fatos, encaminhar a Nota de Esclarecimento elabora no encontro de Itaici, para ser lida em todas as paróquias, em todas as missas do próximo domingo, sua publicação no Jornal O São Paulo e demais revistas e jornais católicos, bem como a leitura nas Tvs e rádios da igreja, buscando por fim ao assunto.
Recomendo esta atitude para nossos pastores reunidos em Itaici, entendendo ser este um gesto que favorecerá a distensão dos mal-entendidos provocados, visando o amplo esclarecimento dos fiéis que receberam tal documento apócrifo e criminoso, sobre a real posição de nossos bispos do Regional 1 e da CNBB, contribuindo desta forma para serenarmos os conflitos gerados entre os católicos, reafirmando a integridade da CNBB e reforçando a cidadania, a democracia e a livre escolha de todos os brasileiros, tão atingidas com esta manifestação difamatória, que desvirtua o foco do debate que interessa à nação e o sentido das eleições de 2010.
A cizânia que a calúnia, as ofensas e as mentiras imputadas geram entre aos cristãos, por ações como está promovida pelo Bispo Diocesano de Guarulhos, estão explicitadas de forma dramática nos fatos que ocorreram hoje em Canindé, no Ceará, onde a missa acabou em TUMULTO, uma vez que o padre corretamente, informou aos presentes que o documento que estava sendo distribuído na missa era falso e acabou sendo atacado por um político, durante a celebração. Pergunto aos nossos Bispos da CNBB; quando na igreja uma missa tão tradicional como a de Canindé, acabou desta maneira? Os fatos demonstram a gravidade do momento e a tentativa de aparelhamento do sentimento religioso em nosso país, conforme nota publicada pla CNBB.
Faz-nos refletir a justeza das palavras da candidata Dilma Rousseff, divulgadas na imprensa recentemente, sobre a campanha de ódio que estas ações subterrâneas estão gerando nos corações e mentes dos brasileiros por todo nosso país. Isso pode ficar mais grave ainda, se não for feita uma ampla campanha de esclarecimento junto aos fiéis. A CNBB e o país tem muito a perder com isso. É preciso por um basta a esta campanha baseada na mentira, na calúnia, na difamação!

Só a Verdade nos libertará.
Atenciosamente,
*Marcelo Zelic Vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais-SP, membro da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo e Coordenador do Projeto Armazém Memória.
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UM GRITO CONTRA AS TREVAS

*Padre Otto Dana

Brasileiros e brasileiras! O capeta está solto! Empunhemos nossos terços e Bíblias e até Alcorões, se os houver! Herodes brande a espada afiada contra as criancinhas do Brasil! Ergamos a fogueira! Queimemos os hereges! O aborto e os gays estão espreitando pela janela!

Gente do céu! Que tiririquice! Que babaquice mais que medieval. Que onda inquisitorial graçando em pleno século XXI. A caça às bruxas. O extermínio dos veados. Cruz, credo! Xô Satanás! Estamos apenas tentando eleger um Presidente para o Brasil. Estamos discutindo propostas e projetos para uma boa administração do Brasil. Aborto, gueisismo, pílula, camisinha não é prioridade do momento.

O processo eleitoral corria tranquilo, dentro dos princípios democráticos: discute-aqui- denuncia-ali, promete-isso, condena-aquilo, tudo numa boa. De repente a serenidade é detonada por uma horda de aiatolás, talibãs, mulás, numa gritaria ensurdecedora contra os que ameaçam o poder do Altíssimo.

Alguns vestidos de batina (ainda!), outros de mitra e báculo, outros de terno e gravata ostentando Bíblias, todos ecumenicamente de dedo em riste acusador: "ela é a favor do aborto, ele apóia o casamento homem-com-homem, mulher-com-mulher, os dois defendem a distribuição de camisinhas até para as crianças da escola.

Deus do céu! Que atraso! Que tiririquice! Pra começar, arbitrar sobre aborto e formas de casamento é da competência do Congresso Nacional e não do Presidente da República, que apenas sanciona ou veta a disposição do Congresso. Além do mais, aborto e casamento gay nem estão em pauta de discussão, hoje.

Mais importante e pertinente agora é ouvir dos candidatos suas propostas e projetos concretos quanto à saúde, educação de qualidade, distribuição de renda, segurança da população, criação de empregos, formas de apropriação ou não do Estado, relações diplomáticas e econômicas com outros países, transporte, saneamento básico, liberdade de imprensa, desenvolvimento do país, programas sociais, etc., etc.

E mais: estamos num país democrático, regido por uma Constituição Civil e não pelas tábuas da lei de Moisés. É um país democrático e laico e não teocrático, apesar de supostamente religioso. Sua capital é Brasília e não o Vaticano, nem a Canção Nova, nem a sede da Assembléia de Deus, nem a CNBB.

Tentar manipular a consciência do eleitor, ameaçando-o com a ira de Deus é injuriar o próprio Deus que nos criou livres. O dia em que o povo tiver que consultar um aiatolá de plantão tipo Pastor Silas Malafaia, ou um Padre José Augusto (Canção Nova) para votar, é melhor rasgar o título de eleitor e o estatuto da maioridade civil. O que vem se praticando em meios religiosos no momento, é o aborto da eleição, da democracia, da Constituição e do bom senso. Xô Satanás!

*Pe. Otto Dana, Pároco da Igreja Sant´Ana em Rio Claro SP - e-mail: otto.dana@gmail.com

Fonte:http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-padre-otto-dana-um-grito-contra-as-trevas
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Resposta do Pe. Brígido ao Pe. José Augusto
*Pe. Brígido

Ao Revmº Srº. Pe. José Augusto

Pe. José Augusto, o senhor cometeu uma falta com a ética e com a Igreja. Somos orientados pela Igreja a não usar o Altar para fazer política e assim estamos nos procedendo, muitos que estão apoiando a Dilma.

Ninguém é obrigado a seguir o pensamento do outro, e não podemos impor o nosso pensamento. O senhor pode ter as suas idéias e concordo que as tenha, pois antes de ser Presbítero, o senhor é um cidadão, mas usar uma estrutura que é sustentada pelo povo para denegrir de forma caluniosa uma pessoa, não é correto. Vocês padres da Canção Nova muitas vezes se julgam acima de todos os padres do Brasil, se sentem superiores, são santos.

Pergunto:

Qual o contato que vocês têm com o povão?

Os pobres mesmo. Nenhum, porque vocês não vão ao encontro deles, é o contrario, o povo é que vai ao encontro de vocês. Faço um convite para vocês, venham passar um mês aqui conosco, visitando nossas comunidades carentes, andando de carro 90 km ou mais para chegar em algumas comunidades, não é asfalto. É chão mesmo, comer poeira. Os senhores não têm alergia? Aqui nós não utilizamos ainda avião para irmos visitar as nossas comunidades.

Os senhores fazem viagem longa de carro?

Andando pelas comunidades nós percebemos o antes e o agora. O que era no tempo do FHC e o que é hoje, e para onde podemos caminhar.Até poucos dias admirava o trabalho de vocês, mas fiquei decepcionado, quando fui chamado de covarde, de bando de aproveitadores da graça de Deus. Faço parte dos 18 mil padres do Brasil, garanto para o senhor não sou, nem serei covarde. Tenho 9 anos de Presbítero, 35 anos de idade, e tenho trabalhado para dar continuidade na obra de Cristo que é sua Igreja.Conheço vários Presbíteros que também não são covardes, padres com 60, 70, 80 anos, muitos com mais de 40 anos de ministério que doaram e continuam a doar suas vidas pela Igreja. O fato de apoiar a candidata Dilma não nos torna covardes. Padres que para Evangelizar tiveram que andar em lombos de burros, comendo poeira por essas estradas afora.

O senhor já andou em lombo de burro? Esqueci, o transporte de vocês quase sempre é aéreo.

Fiquei triste porque, mais uma vez, vocês estão se colocando ao lado dos poderosos, dos sangues sugas que sempre tiraram dos pobres os seus direitos: Direito a uma boa educação - há tempos, somente os de classe média entravam na faculdade, hoje temos vários jovens de classe baixa se formando;

Direito a um carro;
Direito a ter luz elétrica em casa;
Direito a ter uma alimentação adequada, não é somente arroz e feijão;
Direito a ter um meio de transporte bom, inclusive padre, andar de avião
que era coisa de rico;
Direito a ter férias decentes, ir para uma praia, viajar para conhecer
outras realidades, outros países;
Direito a ser gente!

Talvez seja pecado para vocês padres da Canção Nova, os pobres terem direito a isso tudo, somente vocês e eles (sangues sugas) poderão participar dessas benesses.Nós não podemos esquecer que vocês não fazem lazer nem turismo pelo Brasil, vão sempre a Europa e Terra Santa. Quantas pessoas pobres e carentes vocês levam para conhecer esses locais? Nos seus cruzeiros marítimos há espaço para o Sr. José e a Dona Maria, casal simples que não tem condições de fazer o que vocês fazem, mas sonham um dia em
fazer?

Pelo amor de Deus não apaguem esse sonho, há oito anos despertamos de um pesadelo e quando começamos a pegar no sono e a sonhar vocês querem nos despertar. “O sonho que se sonha só é somente um sonho. Mas quando sonhamos juntos pode se tornar uma realidade”.

Meu irmão, não se sinta acima do bem e do mal.Por que nos chamou de covardes, bispos e padres? Por que nos chamou de bando de aproveitadores da Graça de Deus? Por que alguns acreditam nas
propostas da Dilma? A definição de bando segundo o Aurélio é a seguinte: 1- Grupo de pessoas ou animais, 2- As pessoas dum partido ou facção, 3- Quadrilha de malfeitores.

No vídeo que assisti o senhor falou com tanta ira, que não consegui perceber em qual dos três grupos o senhor colocou alguns dos nossos Bispos e padres que apóiam a Dilma.Despeço-me em Cristo, esperando que o senhor que prega tanto sobre humildade, a tenha de fato, para se retratar com vários presbíteros e Bispos que o senhor feriu com suas palavras torpes.

Bocaiúva, 15 de outubro de 2010

*Pe. Antônio Brígido de Lima, nascido em Corinto - MG, filho de Antônio Gomes de Lima e Francisca Louredo Lima. Atual hoje na paróquia Senhor do Bonfim, e nela transmite seu testemunho que Deus é maior!

Fonte:http://eduardomadureira.blogspot.com/2010/10/resposta-do-pe-brigido-ao-pe-jose.html
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"O BISPO NÃO FOI ORDENADO PARA SER
CABO ELEITORAL”
CARTA ABERTA A DOM DEMETRIO

FONTE: IHU – INSTITUTO HUMANITAS UNISINOS de 8/10/2010

'O bispo não foi ordenado para ser cabo eleitoral', afirma teólogo“Os bispos podem lembrar-se de que a Igreja é na Europa o que é, porque durante mais de 100 anos os bispos tomaram sempre posição contra os
candidatos dos pobres, dos operários. Sempre estavam ao lado dos ricos sob os mais diversos pretextos. E no fim aconteceu o que podemos ver.

Abandonaram a Igreja. Cuidado! Que não aconteça a mesma coisa por aqui! Os pobres sabem, são conscientes e sentem muito bem quando são humilhados. Não esperavam uma humilhação por parte da Igreja. Por isso, é urgente falar para eles”, escreve José Comblin, teólogo, em Carta aberta a Dom Demétrio.

Segundo Comblin, “se o episcopado católico deixa a impressão de que a divulgação desse documento nessa circunstância representa a voz da Igreja com relação às eleições deste ano, muitos vão entender que isso significa uma intervenção dos bispos católicos para defender o candidato das elites paulistanas contra a candidata dos pobres”.

Eis a carta.

CARTA ABERTA A DOM DEMETRIO

Querido dom Demétrio,

Quero publicamente agradecer-lhe as suas palavras esclarecedoras sobre a manipulação da religião católica no final da campanha eleitoral pela difusão de uma mensagem dos três bispos da comissão representativa do
regional Sul I da CNBB condenando a candidata do atual governo e proibindo que os católicos votem nela. Graças ao senhor, sabemos que essa divulgação do documento da diretoria de Sul 1 não foi expressão da vontade da CNBB, mas contraria a decisão tomada pela CNBB na sua ultima assembléia geral, já que esta tinha decidido que os bispos não iam intervir nas eleições. Sabemos agora que o documento dos bispos da diretoria do regional Sul 1 foi divulgado no final de agosto, e durante quase um mês permaneceu ignorado pela imensa maioria do povo brasileiro.

Agora, dois dias antes das eleições, um grupo a serviço da campanha eleitoral de um candidato, numa manobra de evidente e suja manipulação, divulgou com abundantes recursos e muito barulho esse documento, criando uma tremenda confusão em muitos eleitores. Pela maneira como esse documento foi apresentado, comentado e divulgado, dava-se a entender que o episcopado brasileiro proibia que os católicos votassem nos candidatos do PT e, sobretudo na sua candidata para a presidência. Dois dias antes das eleições os acusados já não podiam mais reagir, apresentar uma defesa ou uma explicação. Aos olhos do público a Igreja estava dando o golpe que sempre se teme na véspera das eleições, quando se divulga um suposto escândalo de um candidato. Era um golpe sujo por parte dos manipuladores, já que dava a impressão de que o golpe vinha dessa feita da própria Igreja.

Se os bispos que assinaram o documento de agosto, não protestam contra a manipulação que se fez do seu documento, serão cúmplices da manipulação e aos olhos do público serão vistos como cabos eleitorais.Se a CNBB não se pronuncia publicamente com muita clareza sobre essa manipulação do documento por grupos políticos sem escrúpulos, será cúmplice de que dezenas de milhões de católicos irão agora, no segundo turno votar pensando que estão desobedecendo aos bispos. Seria uma primeira experiência de desobediência coletiva imensa, um precedente muito perigoso. Além disso, certamente afetará a credibilidade da Igreja Católica na sociedade civil, o que não gostaríamos de ver nesta época em que ela já está perdendo tantos fiéis.

Se o episcopado católico deixa a impressão de que a divulgação desse documento nessa circunstância representa a voz da Igreja com relação às eleições deste ano, muitos vão entender que isso significa uma intervenção dos bispos católicos para defender o candidato das elites paulistanas contra a candidata dos pobres. Os pobres têm muita sensibilidade e sentem muito bem o que há na consciência dessas elites. Sabem muito bem quem está com eles e quem está contra eles. Vão achar que a questão do aborto é apenas um pretexto que esconde uma questão social, o desprezo das elites, sobretudo de São Paulo pela massa dos pobres deste país. Milhões de pobres votaram e vão votar na candidata do governo porque a sua vida mudou. Por primeira vez na história do país viram que um governo se interessava realmente por eles e não somente por palavras. Não foi somente uma melhoria material, mas antes de tudo o acesso a um sentimento de dignidade. “Por primeira vez um governo percebeu que nós existimos”. Isso é o que podemos ouvir da boca dos pobres todos os dias. Um povo que tinha vergonha de ser pobre descobriu a dignidade. Por isso o voto dos pobres, este ano, é um ato de dignidade. As elites não podem entender isso. Mas quem está no meio do povo, entende.

Os bispos podem lembrar-se de que a Igreja é na Europa o que é, porque durante mais de 100 anos os bispos tomaram sempre posição contra os candidatos dos pobres, dos operários. Sempre estavam ao lado dos ricos sob os mais diversos pretextos. E no fim aconteceu o que podemos ver.

Abandonaram a Igreja. Cuidado! Que não aconteça a mesma coisa por aqui! Os pobres sabem, são conscientes e sentem muito bem quando são humilhados. Não esperavam uma humilhação por parte da Igreja. Por isso, é urgente falar para eles.Uma declaração clara da CNBB deve tranquilizar a consciência dos pobres deste país. Sei muito bem que essa divulgação do documento na forma como foi feita, não representa a vontade dos bispos do regional Sul 1 e muito menos a vontade de todos os bispos do Brasil. Mas a maioria dos cidadãos não o sabe e fica perturbados ou indignados por essa propaganda que houve.

Não quero julgar o famoso documento. Com certeza os redatores agiram de acordo com a sua consciência. Mas não posso deixar de pensar que essa manipulação política que foi a divulgação do seu documento na véspera das eleições, dava a impressão de que estavam reduzindo o seu ministério à função de cabo eleitoral. O bispo não foi ordenado para ser cabo eleitoral. Se não houver um esclarecimento público, ficará a imagem de uma igreja conivente com as manobras espúrias.Dom Demétrio, o senhor fez jus à sua fama de homem leal, aberto, corajoso e comprometido com os pobres e os leigos deste país. Por isso, o senhor merece toda a gratidão dos católicos que querem uma Igreja clara, limpa, aberta, dialogante. Demonizar a candidata do governo como se fez, baseando-se em declarações que não foram claras, é uma atitude preconceituosa totalmente antievangélica. Queremos continuar confiando nos nossos bispos e por issoaguardamos palavras claras. Obrigado, dom Demétrio.

José Comblin, padre e pecador.
05 de outubro de 2010