segunda-feira, 1 de novembro de 2010

500 ANOS ESTA NOITE

Pedro Tierra

De onde vem essa mulher
que bate à nossa porta
500 anos depois?
Reconheço esse rosto estampado
em pano e bandeiras e lhes digo:
vem da madrugada que acendemos
no coração da noite.

De onde vem essa mulher
que bate às portas do país
dos patriarcas em nome
dos que estavam famintos
e agora têm pão e trabalho?
Reconheço esse rosto
e lhes digo:
vem dos rios subterrâneos da esperança,
que fecundaram o trigo e
fermentaram o pão.

De onde vem essa mulher
que apedrejam, mas
não se detém,
protegida pelas mãos aflitas
dos pobres
que invadiram os espaços
de mando?
Reconheço esse rosto e
lhes digo:
vem do lado esquerdo do peito.

Por minha boca de clamores
e silêncios
ecoe a voz da geração insubmissa para contar
sob sol da praça
aos que nasceram e aos
que nascerão,
de onde vem essa mulher.

Que rosto tem, que sonhos traz?
Não me falte agora a palavra que retive
ou que iludiu a fúria dos carrascos
durante o tempo sombrio
que nos coube combater.

Filha do espanto e da indignação,
filha da liberdade e da coragem,
recortado o rosto e o riso
como centelha:
metal e flor, madeira e memória.

No continente de esporas de prata
e rebenque, o sonho dissolve a treva espessa, recolhe os cambaus, a brutalidade,
o pelourinho, afasta a força que sufoca e silencia
séculos de alcova, estupro
e tirania
e lança luz sobre o rosto
dessa mulher
que bate às portas do
nosso coração.

As mãos do metalúrgico,
as mãos da multidão inumerável
moldaram na doçura do barro
e no metal oculto dos sonhos
a vontade e a têmpera
para disputar o país.
Dilma se afarta da luz
que esculpiu seu rosto
ante os olhos da multidão
para disputar o país,
para governar o país.
Nasce uma nova aurora:

BOM  DILMA!!

31 outubro de 2010

Pedro Tierra
(companheiro muito ligado à CPT das primeiras décadas)

sábado, 30 de outubro de 2010

IGREJA NÃO TEM POSIÇÃO PARTIDÁRIA, DIZ CNBB

O vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), d. Luiz Soares Vieira, arcebispo de Manaus, afirmou ontem em entrevista à Rádio Vaticano, em Roma, que a Igreja já está cumprindo a orientação dada pelo papa Bento XVI, quinta-feira, quando condenou o aborto e aconselhou o episcopado a lembrar aos eleitores o direito de usar o voto para a promoção do bem comum.

A reportagem é de José Maria Mayrink e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 30-10-2010.

"A Igreja não tem posição partidária e o papa não está dizendo que se deve votar em um ou em outro candidato", observou d. Luiz Vieira, acrescentando que, "como os dois candidatos (Dilma Rousseff e José Serra) têm praticamente a mesma posição diante do aborto, é complicado fazer a escolha".    
   
O secretário-geral da entidade, d. Dimas Lara Barbosa, declarou à Rádio Vaticano que não existe divisão no episcopado a respeito do que o papa falou, embora haja opções políticas divergentes entre os bispos. "Nos pontos fundamentais, como a defesa da vida e a liberdade religiosa, que são valores inegociáveis, estamos em profunda sintonia com o santo padre", disse.

O discurso de Bento XVI aos bispos do Regional Nordeste 5, que estão em Roma, não vai alterar a orientação dada aos fiéis na Arquidiocese de São Paulo. O cardeal-arcebispo, d. Odilo Scherer, comunicou que serão mantidas para as eleições presidenciais de amanhã as mesmas instruções dadas antes do primeiro turno. Os fiéis são aconselhados a votar de modo consciente e responsável, sem campanha explícita para partidos ou candidatos.

"Não se trata de fazer uma cruzada na véspera e no dia das eleições, porque não é disso que o papa está falando", observou o bispo de Limeira, d. Vilson Dias de Oliveira, porta-voz do Regional Sul 1 da CNBB. "Estamos seguindo a orientação do papa, porque já vínhamos trabalhando na conscientização dos eleitores, sem apontar nomes de partidos ou de candidatos", afirmou.

O bispo de Jales, d. Demétrio Valentini, advertiu que "se deve evitar a tentação de achar que o papa está interferindo na política brasileira". "O bom da democracia é cada um poder votar de acordo com a sua consciência."

Nas dioceses de Guarulhos e de Lorena, o orientação do 1.º turno para não votar em Dilma ou no PT permanece inalterada.

Bispo de Caçador divulga carta em apoio a Dilma

O bispo Dom Luiz Carlos Eccel, de Caçador, Santa Catarina, divulgou nesta sexta-feira, 29, uma carta de apoio à candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, um dia depois que o papa Bento XVI pediu aos bispos que orientassem os fíéis para votar em candidatos “contra o aborto e a favor da vida”.

A reportagem é de Jair Stangler e publicada no Estadão, 29-10-2010.

É o segundo texto de apoio a Dilma que o bispo divulga. O primeiro data do dia 12 de outubro. No texto divulgado nesta sexta, o bispo afirma que “o Santo Padre foi muito oportuno e feliz nas suas colocações”, mas alerta para “facções sociais, políticas e religiosas” dentro da própria igreja que “estão manipulando o texto do papa, para justificar a sede do poder”.

Depois, Dom Luiz afirma que viu nos telejornais que tanto Dilma quanto o candidato tucano, José Serra, concordaram com o papa: “Ambos concordaram com as Palavras do Papa, dizendo que é missão dele exortar para uma vida coerente com os valores da fé e da moral, e que as palavras do Papa valem para todas as pessoas de fé, no mundo inteiro”.
A seguir, o bispo afirma que Lula “tem defendido a vida, e sempre se pronunciou contra o aborto. Nesses últimos anos o Brasil tem crescido e melhorado em todos os aspectos, de maneira especial no respeito à vida e a valorização da dignidade humana. Esta é a Vontade de Deus! E as pessoas, em plena posse de suas faculdades mentais, vão reconhecer esta verdade.”

De acordo com Dom Luiz, “nosso país está em pleno desenvolvimento e assim queremos continuar”. O bispo ainda destaca que Dilma “não fugiu para o exterior durante a ditadura, mas a enfrentou com garra e, por isso, foi presa e torturada. Ela queria um país livre, e que todas as pessoas pudessem viver sem medo de serem felizes, vencendo a mentira e o ódio com a verdade e o amor”.

Ele cita ainda palavras de Jesus para justificar seu apoio à petista: “Ninguém tem maior amor do aquele que dá a própria vida pelos irmãos.”

Ao final, o bispo agradece as palavras do papa: “Obrigado Santo Padre por suas sábias palavras! A Dilma é a resposta para as nossas inquietações a respeito da vida. Quem sofreu nos porões da ditadura, não mata.”

Eis a carta.

O papa e a política

Já havia lido o discurso do Papa Bento XVI, aos Bispos do Maranhão, em visita ad limina apostolorum.

Muito interessante o discurso do Papa. Ele não pode deixar de cumprir sua missão de Pastor Universal, exortando o Povo de Deus, especialmente no que diz respeito à defesa da VIDA.
O Santo Padre foi muito oportuno e feliz nas suas colocações, porque o Estado Brasileiro é laico, mas seu povo é religioso, e isto precisa ser respeitado. Quando digo que o povo é religioso é porque está disposto a fazer a Vontade de Deus e não somente dizer: Senhor, Senhor…, como às vezes se pretende, de maneira especial dentro da própria Igreja. Existem facções sociais, políticas e religiosas especializadas em fazer lavagem cerebral, deixando as pessoas sem convicções, mas com obsessões, e com a consciência invencivelmente errônea. Ficam semelhantes aos grãos de pipoca que levados ao fogo não estouram, e com mais fogo, mais duros ficam. Tornam-se donas da “verdade”. Estão até manipulando o texto do Papa, para justificar a sede do poder. (cf. http://www.releituras.com/rubemalves_pipoca.asp)

É a Vontade de Deus que nos salva e não a nossa, e sobre isto precisamos sempre nos exortar mutuamente, como diz o Apóstolo São Paulo. Portanto, que nossa fé seja sempre vivificada pela mútua exortação. Pode ocorrer de nos esquecermos que somos todos peregrinos caminhando para a Casa do Pai, e quando lá chegarmos, poderemos ouvir de Jesus o seguinte: “Afastai-vos de mim, vós que praticastes a injustiça, a maldade” (Lc13,27). Creio que ninguém vai querer ouvir isto naquela hora. Seu passaporte está em dia? Pode ter certeza de que a eternidade existe… Assim, busquemos alimentar nossa fé, sem esquecer, como diz o Papa, que ela deve implicar na política. A fé sem obras é morta, diz a Escritura Sagrada. E uma das obras que deve provir da fé, é o nosso voto consciente em pessoas que vão governar para o bem comum, respeitando a vida em todas as suas etapas e dimensões.

No mesmo dia em que li o discurso do Papa, assistindo ao telejornal, à noite, escutei o pronunciamentoda candidata e do candidato à presidência do Brasil a respeito do discurso do Papa. Ambos concordaram com as Palavras do Papa, dizendo que é missão dele exortar para uma vida coerente com os valores da fé e da moral, e que as palavras do Papa valem para todas as pessoas de fé, no mundo inteiro. O Papa falou, também, que o voto deve estar a serviço da construção de uma sociedade justa e fraterna, defensora vida.

Como Bispo da Igreja Católica, e como cidadão brasileiro, fico feliz por saber que nosso Presidente tem defendido a vida, e sempre se pronunciou contra o aborto. Nesses últimos anos o Brasil tem crescido e melhorado em todos os aspectos, de maneira especial no respeito à vida e a valorização da dignidade humana. Esta é a Vontade de Deus! E as pessoas, em plena posse de suas faculdades mentais, vão reconhecer esta verdade.

Nosso país está em pleno desenvolvimento e assim queremos continuar e, depois de 500 anos, nosso povo quer eleger, pela primeira vez, uma mulher que tem compromisso com a vida e provou isso com sua própria vida. Como? Ela não fugiu para o exterior durante a ditadura, mas a enfrentou com garra e, por isso, foi presa e torturada. Ela queria um país livre, e que todas as pessoas pudessem viver sem medo de serem felizes, vencendo a mentira e o ódio com a verdade e o amor, servindo aos ideais de liberdade e justiça, com sua própria vida. Disse Jesus: “Ninguém tem maior amor do aquele que dá a própria vida pelos irmãos” (Jo 15,13).

Obrigado Santo Padre por suas sábias palavras! A Dilma é a resposta para as nossas inquietações a respeito da vida. Quem sofreu nos porões da ditadura, não mata. Mas teve gente que matou a vida no seu ventre para fugir da ditadura, e portanto não deveria se comportar como os fariseus, que jogam pedras, sabendo-se pecadores. E Jesus disse: “Quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la, e quem entregar sua vida por causa de mim, vai salvá-la”(Mt 10,39).

Vamos fazer o nosso Brasil avançar ainda mais, com Dilma, que já provou ser coerente, competente e comprometida com a VIDA. O dragão devastador não pode voltar ao poder.

Deus abençoe os leitores e eleitores, governos e governados. Saúde e paz a todos (as)!

Tudo o que você me desejar, eu lhe desejo cem vezes mais. Obrigado.

Caçador, 28 de outubro de 2010
Dom Luiz Carlos Eccel
Bispo Diocesano de Caçador

BRASIL É ESTADO LAICO, DIZ LULA SOBRE FALA DO PAPA

Um dia após o papa Bento XVI pedir aos bispos brasileiros para condenar o aborto e orientar os fiéis em matéria política, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, em tom crítico, que a Igreja Católica fala a mesma coisa há 2 mil anos.

"Ô gente, não vi nenhuma novidade na declaração do papa, isso é um comportamento da Igreja Católica desde que ela existe", afirmou. "Se for ver o que a Igreja falava há 2 mil anos, ela falava exatamente o que o papa falou."

A reportagem é de Leonencio Nossa e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 30-10-2010.

Após visitar o Salão Internacional do Automóvel, no Anhembi, em São Paulo, Lula minimizou uma possível influência do discurso de Bento XVI nas eleições. "Isso pode ser falado a qualquer momento. Pode ser falado hoje, amanhã, depois de amanhã", disse. "Toda vez que você perguntar a um papa sobre a questão do aborto, ele vai dizer exatamente o que disse o papa antes de ontem."

Na entrevista, Lula disse que a CNBB pode se manifestar, mas observou que o Estado é laico. "Olha, eu não acho que ninguém vai além, cada um vai de acordo com a sua consciência", disse. "Este País é democrático e laico, portanto, as pessoas se manifestam do jeito que quiserem. A liberdade é boa por isso, é porque a gente se manifesta, ganha ou perde, pode pagar um preço pelos erros que cometeu."

HIERARQUIA PODE ADVERTIR, MAS NÃO INTERFERIR, ADVERTE CÂNDIDO MENDES

IHU OnLine

A Comissão Nacional de Justiça e Paz, através do jurista Cândido Mendes, emitiu pronunciamento em relação à alocução do papa Bento XVI dirigida aos bispos do Maranhão, quando se referiu à matéria de natureza política e enfatizou o uso livre do voto para a promoção do bem comum.

O reitor da Universidade Cândido Mendes observou que, de acordo com o Vaticano II, essa matéria é de específica competência dos leigos no corpo da Igreja. “A hierarquia pode advertir, mas não interferir na autonomia dos leigos no exercício do voto”, disse.

Ele mencionou a Constituição Pastoral Gaudium et Spes, segundo a qual "os leigos devem considerar as prioridades da justiça social, da aceleração do desenvolvimento ou da construção da paz, na luta contra a violência".

Intelectual de família católica tradicional e irmão do falecido arcebispo de Mariana (MG) e ex-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Luciano Mendes de Almeida, Cândido insiste na autonomia, mesmo quando "entram também nessas considerações o apoio a uma legislação contra o aborto.”

Mendes lembrou que a questão do aborto depende de um futuro debate no Congresso, no qual também "prevalecerão o peso e o testemunho dos valores cristãos".
A responsabilidade final da escolha é, pois, do eleitor, “na plena consciência da preservação da sua liberdade, no que é de sua estrita competência na vida pública nacional", assegurou o jurista.

Eis a íntegra da nota.

Pronunciamento do Prof. Candido Mendes - Primeiro Presidente Comissão Nacional de Justiça e Paz

A alocução do Papa Bento XVI aos bispos do Nordeste, ao reiterar a orientação dos pastores, mesmo em matéria política, insiste nesse uso livre do voto para promoção do bem comum. Esta decisão, nos termos do Vaticano II, é da específica competência desses leigos no corpo da Igreja. Pode a hierarquia advertir, porém não substituir-se ao que é a autonomia dos leigos no exercício do voto. Nesta promoção, pela política do bem comum, impõem-se, nas escolhas partidárias, como insiste a Gaudium Spes, as prioridades da justiça social, da aceleração do desenvolvimento ou da construção da paz, na luta contra a violência. Claro, entram também nessas considerações o apoio a uma legislação contra o aborto. Mas esta, no caso, toda a depender de um futuro debate no Congresso, quando prevalecerão o peso e o testemunho dos valores cristãos.

A responsabilidade final, pois, da escolha é do eleitor, na plena consciência da preservação da sua liberdade, no que é de sua estrita competência na vida pública nacional.

Candido Mendes
Pronunciamento da Comissão Nacional de Justiça e Paz
Rio de Janeiro, 29 de outubro de 2010.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

SAIU NA MIDIA - Dilma reafirma posição contra aborto e pede respeito à orientação do Papa

Eduardo Bresciani Do G1, em Brasília

A candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, afirmou nesta quinta-feira (28), em Brasília, respeitar a posição do Papa Bento XVI, que disse que os bispos brasileiros têm o dever de emitir juízos morais em matérias políticas, mas declarou não ver relação entre a orientação e a “campanha” que a acusava de ser favorável ao aborto.

“Vamos separar as questões. Acho que o Papa não tem nada a ver com isso. Aqui ocorreu uma outra coisa, ocorreu uma campanha que não ocorreu à luz do dia. Quem fez a campanha não se identificou, não mostrou sua cara. Foi uma campanha de difamações, de calúnias e algumas delas ao arrepio da lei”, afirmou a petista.

Dilma afirmou que o Papa "tem direito” a manifestar sua posição. “Eu acho que é a posição do Papa e tem de ser respeitada. Encaro que ele tem direito de se manifestar sobre o que ele pensa, é a crença dele, e ele está encomendando uma orientação.”

A petista reafirmou ser contra o aborto, mas a favor do tratamento das mulheres que recorrem à clandestinidade para interromper a uma gestação. “Cansei de repetir qual minha posição nessa questão do aborto. Eu, pessoalmente, sou contra o aborto, mas sei que a cada dois dias morre uma mulher nessas circunstâncias. Eu não acredito que ninguém em sã consciência recomende que se prenda essas mulheres.”

Fonte: ihttp://g1.globo.com/especiais/eleicoes-2010/noticia/2010/10/dilma-reafirma-posicao-contra-aborto-e-pede-respeito-orientacao-do-papa.html

FREI BETTO LAMENTA QUE PAPA SEJA 'USADO COMO CABO ELEITORAL'

IHU OnLine, de 29/10/2010

Frei Betto lamenta a postura do papa Bento XVI, que voltou a trazer o aborto ao debate político brasileiro às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais. Na manhã desta quinta-feira (28), o papa esteve com 15 bispos brasileiros do Nordeste, a quem convocou a condenar o aborto e orientar fieis a "usar o próprio voto para a promoção do bem comum".

Para o frei brasileiro há temas mais relevantes para o momento.

A reportagem é de Patrícia Ferreira e publicada pela Rede Brasil Atual, 28-10-2010.

"Lamento que Bento XVI esteja sendo usado como cabo eleitoral, seja para qual partido for. Há temas muito mais importantes do que aborto e religião para se discutir em uma campanha eleitoral", afirmou Frei Betto. "Aborto se evita com políticas sociais. Num país em que se sabe que os futuros filhos terão saúde, escolaridade e oportunidades de trabalho, o número de aborto é reduzido. Lula fez o governo que mais fez para evitar o aborto no Brasil", analisa.

No discurso proferido durante reunião em Roma, o papa afirmou que se "os direitos fundamentais da pessoa ou da salvação das almas o exigirem, os pastores têm o grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas". O discurso do papa reconheceu a possibilidade de eventuais efeitos negativos: "Ao defender a vida, não devemos temer a oposição ou a impopularidade".

Frei Betto relembrou que tal postura se parece com as de dom Nelson Westrupp, dom Benedito Beni dos Santos e dom Airton José dos Santos, bispos que subscreveram um panfleto produzido pela Regional Sul 1 da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O material trazia um pedido aos cristãos que não votassem no PT e em partidos que defendessem o aborto. Para o frei, o objetivo era clararamente fazer um manifesto anti-Dilma.

"Lamento também que três bispos tenham desviado a atenção da opinião pública para introduzir oportunisticamente o tema no debate", critica. Atuante em movimentos sociais, Frei Betto afirma que muitas mulheres acabam optando pelo aborto por se sentirem inseguras com o futuro que darão aos filhos.

Polêmica

O aborto ganhou status de tema de campanha desde o final do primeiro turno. A questão é apontada por analistas como uma das responsáveis pela perda de intenção de votos da candidata governista na reta final, causando o segundo turno. Desde o dia seguinte da votação, a discussão permaneceu na disputa entre os candidatos Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB).

O fenônemo levou a campanha de Dilma a promover eventos com lideranças evangélicas e de outras religiões. Ela assumiu ainda compromissos em "defesa da vida" e contrários a mudanças na legislação sobre interrupção da gravidez. O PSDB teria empregado, segundo relatos publicados em jornais e blogues, uma ampla ação de telemarketing ativo (milhares de telefonemas a eleitores) com o objetivo de espalhar a informação de que a petista seria favorável ao aborto.

A onda foi seguida por figuras relevantes do cenário religioso. A Comissão em Defesa da Vida, grupo católico coordenado pelo padre Berardo Graz, divulgou nota incitando os fiéis a não votar em Dilma. No último sábado (23), porém, o bispo dom Angélico Sândalo Bernardino leu, em São Paulo, uma carta pela 'verdade e justiça nas eleições' deste ano. O conteúdo da carta critica a atitude da Regional Sul 1 e a utilização eleitoreira do tema aborto.

Fonte: IHU OnLine, de 29/10/2010 http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=37812