Intelectuais


Leonardo Boff, aborto e o Papa: “É importante não sermos vítimas de hipocrisia”

Leonardo Boff, no informativo Rede de Cristãos

É importante que na intervenção do Papa na política interna do Brasil acerca do tema do aborto, tenhamos presente este fato para não sermos vítimas de hipocrisia: nos catolicíssimos países como Portugal, Espanha, Bélgica, e na Itália dos Papas já se fez a descriminalização do aborto (Cada um pode entrar no Google e constatar isso). Todos os apelos dos Papas em contra,  não modificaram a opinião da população quando se fez um plebiscito. Ela viu bem: não se trata  apenas do aspecto moral,  a ser sempre considerado (somos contra o aborto), mas deve-se atender também a seu aspecto de saúde pública. No Brasil acada dois dias morre uma mulher por abortos mal feitos , como foi publicado recentemente em O Globo na primeira página. Diante de tal fato devemos chamar a polícia ou chamar médico? O espírito humanitário e a compaixão nos obriga a chamar o médico até para não sermos acusados de crime de omissão de socorro.

Curiosamente, a descriminalização do aborto nestes países fez com que o número de abortos diminuisse consideravelmente.

O organismo da ONU que cuida das Populações demonstrou há anos que quando as mulheres são educadas e conscientizadas, elas regulam a maternidade e o número de abortos cai enormente. Portanto, o dever do Estado e da sociedade é educar e conscientizar e não simplesmente condenar as mulheres que, sob pressões de toda ordem, praticam o aborto. É impiedade impor sofrimento a quem já sofre.

Vale lembrar que o canon 1398 condena com a excomunhão automática quem pratica o aborto e cria as condições para que seja feito. Ora, foi sob FHC  e sendo ministro da saude José Serra que foi introduzido o aborto na legislação, nas duas condições previstas em lei: em caso de estupro ou de risco de morte da mãe. Se alguém é fundamentalista e aplica este canon, tanto  Serra quanto  Fernando Henrique estariam excomungados. E Serra nem poderia ter comungado em Aparecida como ostensivamente o fez. Mas pessoalmene não o faria por achar esse cânon excessivamente rigoroso.

Mas Dom José Sobrinho, arcebispo do Recife o fez.  Canonista e extremamente conservador, há dois anos atrás, quando se tratou de praticar aborto numa menina de 9 anos, engravidada pelo pai e que de forma nenhuma poderia dar a luz ao feto, por não ter os orgãos todos preparados, apelou para este canon 1398 e excomungou os medicos e todos os que participaram do ato. O Brasil ficou escandalizado por tanta insensibilidade e desumanidade. O Vaticano num artigo do Osservatore Romano criticou a atitude nada pastoral deste Arcebispo.

Mas Dom José Sobrinho, arcebispo do Recife o fez.  Canonista e extremamente conservador, há dois anos atrás, quando se tratou de praticar aborto numa menina de 9 anos, engravidada pelo pai e que de forma nenhuma poderia dar a luz é edicos e todos os que participaram do ato. O Brasil ficou escandalizado por tanta insensibilidade e desumanidade. O Vaticano num artigo do Osservatore Romano criticou a atitude nada pastoral deste Arcebispo.

É bom que mantenhamos o espírito crítico face a esta inoportuna intervenção do Papa na política brasileira fazendo-se cabo eleitoral dos grupos mais conservadores. Mas o povo mais consciente tem, neste momento, dificuldade em aceitar a autoridade moral de um Papa que durante anos, como Cardeal, ocultou o  crime de pedofilia de padres e de bispos.

Como cristãos escutaremos a voz do Papa, mas neste caso, em que uma eleição está em jogo, devemos recordar que o Estado brasileiro é laico e pluralista. Tanto o Vaticano e o Governo devem respeitar os termos do tratado que foi firmado recentemente onde se respeitam as autonomias e se enfatiza a não intervenção na política interna do pais, seja na do Vaticano seja na do Brasil.

Um abraço fraterno
Leonardo Boff
_______________________________________

Com Dilma, pela vida em plenitude.


*Patrus Ananias

“Vim para que tenham a vida; e a tenham em plenitude”. Essa é a vigorosa mensagem de Jesus que forma o centro do cristianismo. E é com base nela que gostaria de compartilhar algumas reflexões acerca do direito à vida, que para nós, cristãos, começa com o momento sagrado da concepção. Com base nesses princípios, somos contrários ao aborto. Mas penso que o direito à vida a partir da concepção deve ser vinculado a uma compreensão mais alargada de vida, pensando na “plenitude” reforçada na mensagem do Cristo.

Neste segundo turno das eleições presidenciais, setores muito conservadores da sociedade introduziram a questão do aborto de maneira enviesada – como de resto fizeram com muitos outros temas importantes -, dissociando-a dos desdobramentos posteriores que asseguram o direito à vida na sua força e plenitude. Queremos assegurar os direitos do nascituro desde a concepção para que, vindo a este mundo, possa partilhar do “banquete da vida”, na bela expressão de Paulo VI, e assim encontrar condições para bem trabalhar e realizar seus talentos. Essas garantias básicas começam no ventre materno, que precisa estar bem cuidado e alimentado. Nesse contexto, precisamos discutir, à luz da tradição cristã, o direito à vida em seu sentido mais amplo, considerando as condições objetivas de sua existência. Esse foi o núcleo das políticas públicas nos dois mandatos do presidente Lula e é o centro do programa de governo da nossa candidata Dilma Rousseff. Ambos se sustentam na importância e na centralidade das políticas sociais como coesionadoras de um projeto de desenvolvimento integral e integrado para o país.

Ao discutir a defesa da vida, precisamos, por exemplo, intensificar o enfrentamento vigoroso para reduzirmos cada vez mais – como estamos reduzindo no governo Lula – a mortalidade infantil. É necessário enfatizar esse aspecto: queremos que as crianças venham ao mundo para serem bem acolhidas, para viver. Temos ainda de discutir e enfrentar a questão da juventude, da violência nas periferias das cidades, que atinge principalmente os jovens pobres e negros. É uma guerra na qual ninguém está ganhando. O governo Lula, do qual eu participei, tem um programa importante para garantir a segurança por meio de uma perspectiva de cidadania, o PRONASCI (Programa Nacional de Segurança e Cidadania). Sabemos que não é uma tarefa fácil, que é um problema que exige participação de vários setores do governo, de todos os entes federados e dos setores da sociedade. Mas o estamos enfrentando de forma prioritária e inovadora.

E a questão da fome? A fome mata! Nós, no governo Lula, incluímos mais de 30 milhões de pessoas na classe média e 28 milhões saíram da pobreza absoluta. É uma conquista histórica, civilizatória, cristã, evangélica: nós estamos vencendo a batalha contra a fome no Brasil. O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, do qual eu tive a honra de ser ministro, contou este ano com um orçamento de R$ 39 bilhões – dinheiro dedicado única e exclusivamente aos pobres. Dedicado única e exclusivamente a combater a fome, a pobreza, a miséria, a desnutrição e, com isso, promover a plenitude da vida. Considerando exclusivamente as políticas de assistência social, segurança alimentar e transferência de renda, representa um crescimento de mais de 500% em relação ao que foi investido no último ano do governo anterior. Em 2002, o total do orçamento para programas dessas áreas era de R$ 7,2 bilhões. Foram criados mais de 14 milhões de novos empregos no nosso governo.

Devemos construir uma sociedade coesionada em torno do direito à vida. O nosso compromisso é ousado: uma sociedade em que ninguém morra antes da hora, em que as pessoas vivam dignamente até o limite de seus organismos recebendo todos, desde a concepção, os benefícios dos progressos da medicina e da saúde pública. Uma sociedade onde ninguém morra violentamente. Para isso, precisamos, na perspectiva de assegurar a vida dos que estão misteriosamente a caminho deste mundo, combater três frentes de violência:

A primeira, a qual nós estamos superando, é a violência social. Ela diz respeito às pessoas que morrem por causa da fome, da desnutrição, da falta de atendimento médico e cuidados básicos com a saúde, por causa da falta de moradia e saneamento básico. Hoje há um enfrentamento vigoroso a esses tipos de violência, como nunca foi feito no Brasil. Temos um intenso trabalho pela garantia de comida, água potável – com o Programa das Cisternas -, saneamento básico, casa própria – como no programa Minha Casa, Minha Vida -, acesso à energia elétrica com o Luz Para Todos. Há um esforço do atual governo em enfrentar essas questões, esforço este que o mundo inteiro reconhece. O Brasil tem se tornado uma referência no campo das políticas sociais.

A segunda, também merecedora de uma séria reflexão, é a violência no trânsito. Jovens, crianças, pais e mães de família estão morrendo nas ruas e nas estradas. Cada feriado tem se tornado um balanço trágico dessas vidas humanas que não tiveram seu direito sagrado assegurado.

Por fim, há ainda a violência – que vem se reduzindo – das periferias das grandes cidades. É preciso intensificar o combate ao crime organizado e garantir uma vida de tranquilidade às famílias que moram nesses locais.

São Tomás de Aquino já nos ensinava na Idade Média que a prática das virtudes cristãs pressupõe o atendimento às necessidades materiais básicas. Podemos dizer hoje que a prática das virtudes cívicas, republicanas e democráticas pressupõe direito à alimentação, moradia, condições dignas de vida.

Reitero minha posição contrária ao aborto. Essa é também a posição de muitos companheiros e companheiras do PT. Essa é a posição do presidente Lula. Essa é a posição da nossa candidata Dilma. O rigor na fidelidade às nossas concepções mais históricas e profundas não dispensa a caridade e a compaixão que devem estar presentes em todas as ações e reflexões dos cristãos, porque constituem o centro da vida e da mensagem de Jesus. O Papa João XXIII nos ensinava: é preciso distinguir o erro da pessoa que erra. Santo Agostinho também dizia: é preciso distinguir pecado e pecador. O erro e o pecado devem ser combatidos. A pessoa que erra tem de ser acolhida. Nosso Deus é o Deus da misericórdia, é o Deus do filho pródigo, como ensinou Jesus, ele próprio defendendo e perdoando a mulher que queriam naquele tempo apedrejar. Da mesma forma, em nome de nosso Deus da misericórdia e dos valores mais fortes e permanentes do Evangelho e da Tradição Cristã, não podemos admitir, numa campanha eleitoral, que deve ser marcada pelo debate democrático e pelo respeito ao outro, a disseminação de sentimentos de ódio e violência.

Dilma, que ocupou posições de destaque no governo Lula, tem história de compromisso profundo com a vida. Dilma é mãe. Dilma é avó. Dilma dedicou sua vida, desde a juventude, à construção de uma pátria mais justa e solidária. Compromisso que se traduz também com as gerações futuras. Em oito anos, o governo Lula fez muito pela vida no Brasil. Seguramente o governo que mais defendeu e promoveu a vida. Além de ter sido preservada a legislação vigente sobre o aborto, o governo Lula criou as condições para que a vida se manifeste mais plenamente desde a gestação.

Qual o futuro para uma vida condenada a ser para sempre “Severina”? O caminho natural da vida não é esse. É de ampliar horizontes. Mesmo a vida Severina, como bem nos mostra o belo poema de João Cabral, se move sob esse pulso. Ela rompe todas as barreiras, contraria todas as adversidades e nasce como resposta de esperança. A força que traz dentro de si é elevada demais para ficar desperdiçada. Precisa de apoio para expandir. Investir no desenvolvimento das potencialidades das pessoas é investir na liberdade, que se traduz em exercício da cidadania e segurança para acolher e formar seus filhos em condições cada vez melhores.

As políticas sociais do governo Lula, articuladas dentro de um projeto mais amplo de desenvolvimento, estão dando curso a essa força vital. O projeto, ainda inconcluso diante da secular dívida social do país, precisa de continuidade. Dilma, por sua história e pelas forças políticas e sociais que a apóiam, traduz o compromisso com a ampliação das políticas públicas sociais que asseguram em plenitude o direito à vida e à dignidade da pessoa humana no contexto generoso, amplo e alargado da justiça social e do bem comum.

*Patrus Ananias, católico, advogado,
foi Ministro do Desenvolvimento Social Fo Governo Lula

______________________________________________________________

ELEIÇÕES 2010 E OS APROVEITADORES DA BOA FÉ E DA CREDULIDADE EVANGÉLICA

Rev. Sandro Amadeu Cerveira (02/10/10)

Talvez eu tenha falhado como pastor nestas eleições. Digo isso porque estou com a impressão de ter feito pouco para desconstruir ou no pelo menos problematizar a onda de boataria e os posicionamentos “ungidos” de alguns caciques evangélicos. [1]

Talvez o mais grotesco tenham sido os emails e “vídeos” afirmando que votar em Dilma e no PT seria o mesmo que apoiar uma conspiração que mataria Dilma (por meios sobrenaturais) assim que fosse eleita e logo a seguir implantaria no Brasil uma ditadura comunista-luciferiana pelas mãos do filho de Michel Temer. Em outras o próprio Temer seria o satanista mor. Confesso que não respondi publicamente esse tipo de mensagem por acreditar que tamanho absurdo seria rejeitado pelo bom senso de meus irmãos evangélicos. Para além da "viagem" do conteúdo a absoluta falta de fontes e provas para estas "notícias" deveria ter levado (acreditei) as pessoas de boa fé a pelo menos desconfiar destas graves acusações infundadas. [2]

A candidata Marina Silva, uma evangélica da Assembléia de Deus, até onde se sabe sem qualquer mancha em sua biografia, também não saiu ilesa. Várias denominações evangélicas antes fervorosas defensoras de um “candidato evangélico” a presidência da república simplesmente ignoraram esta assembleiana de longa data.

Como se não bastasse, Marina foi também acusada pelo pastor Silas Malafaia de ser “dissimulada”, “pior do que o ímpio” e defender, (segundo ele), um plebiscito sobre o aborto. Surpreende como um líder da inteligência de Malafaia declare seu apoio a Marina em um dia, mude de voto três dias depois e à apenas 6 dias das eleições desconheça as proposições de sua irmã na fé.

De fato Marina Silva afirmou (desde cedo na campanha, diga-se de passagem) que “casos de alta complexidade cultural, moral, social e espiritual como esses, (aborto e maconha) deveriam ser debatidos pela sociedade na forma de plebiscito” [3], mas de fato não disse que uma vez eleita ela convocaria esse plebiscito.

O mais surpreendentemente, porém foi o absoluto silêncio quanto ao candidato José Serra. O candidato tucano foi curiosamente poupado. Somente a campanha adversária lembrou que foi ele, Serra a trazer o aborto para dentro do Sistema Único de Saúde (SUS) [4]. Enquanto ministro da saúde o candidato do PSDB assinou em 1998 a norma técnica do SUS ordenando regras para fazer abortos previstos em lei, até o 5o mês de gravidez [5]. Fiquei intrigado que nenhum colega pastor absolutamente contra o aborto tenha se dignado a me avisar desta “barbaridade”.

Também foi de estranhar que nenhum pastor preocupado com a legalização das drogas tenha disparado uma enxurrada de-mails alertando os evangélicos de que o presidente de honra do PSDB, e ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso defenda a descriminalização da posse de maconha para o consumo pessoal [6].

Por fim nem Malafaia, nem os boateiros de plantão tiveram interesse em dar visibilidade a noticia veiculada pelo jornal a Folha de São Paulo (Edição eletrônica de 21/06/10) nos alertando para o fato de que “O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, afirmou nesta segunda-feira ser a favor da união civil e da adoção de crianças por casais homossexuais.” [7]

Depois de tudo isso é razoável desconfiar que o problema não esteja realmente na posição que os candidatos tenham sobre o aborto, união civil e adoção de crianças por homossexuais ou ainda a descriminalização da maconha. Se o problema fosse realmente o comprometimento dos candidatos e seus partidos com as questões acima os líderes evangélicos que abominam estas propostas não teriam alternativa.

A única postura coerente seria então pregar o voto nulo, branco ou ainda a ausência justificada. Se tivessem realmente a coragem que aparentam em suas bravatas televisivas deveriam convocar um boicote às eleições. Um gigantesco protesto a-partidário denunciando o fato de que nenhum dos candidatos com chances de ser eleitos tenha realmente se comprometido de forma clara e inequívoca com os valores evangélicos. Fazer uma denuncia seletiva de quem esta comprometido com a “iniqüidade” é, no mínimo, desonesto.

Falar mal de candidato A e beneficiar B por tabela (sendo que B está igualmente comprometido com os mesmo “problemas”) é muito fácil. Difícil é se arriscar num ato conseqüente de desobediência civil como fez Luther King quando entendeu que as leis de seu país eram iníquas.

Termino dizendo que não deixarei de votar nestas eleições.

Não o farei por ter alguma esperança de que o Estado brasileiro transforme nossos costumes e percepções morais em lei criminalizando o que consideramos pecado. Aliás, tenho verdadeiro pavor de abrir esse precedente.

Não o farei porque acredite que a pessoa em quem votarei seja católica, cristã ou evangélica e isso vá “abençoar” o Brasil. Sei, como lembrou o apóstolo Paulo, que se agisse assim teria de sair do mundo.
Votarei consciente de que os temas aqui mencionados (união civil de pessoas do mesmo sexo, descriminalização do aborto, descriminalização de algumas drogas entre outras polêmicas) não serão resolvidos pelo presidente ou presidenta da república. Como qualquer pessoa informada sobre o tema, sei que assuntos assim devem ser discutidos pela sociedade civil, pelo legislativo e eventualmente pelo judiciário (como foi o caso da lei de biossegurança) [8] com serenidade e racionalidade.

Votarei na pessoa que acredito representa o melhor projeto político para o Brasil levando em conta outras questões (aparentemente esquecidas pelos lideres evangélicos presentes na mídia) tais como distribuição de renda, justiça social, direitos humanos, tratamento digno para os profissionais da educação, entre outros temas. (Ver Mateus 25: 31-46) Estas questões até podem não interessar aos líderes evangélicos e cristãos em geral que já ascenderam à classe média alta, mas certamente tem toda a relevância para nossos irmãos mais pobres.
_____________________________________________________________
NOTAS
[1] As afirmações que faço ao longo deste texto estão baseadas em informações públicas e amplamente divulgadas pelos meios de comunicação. Apresento os links dos jornais e documentos utilizados para verificação.
[2] http://www.hospitaldalma.com/2010/07/o-cristao-verdadeiro-nao-deve-votar-na.html
[3http://ultimosegundo.ig.com.br/eleicoes/marina+rebate+declaracoes+de+pastor+evangelico+silas+malafaia/n1237789584105.html
Ver também http://www1.folha.uol.com.br/poder/805644-lider-evangelico-ataca-marina-e anuncia-apoio-a-serra.shtml
[4] http://blogdadilma.blog.br/2010/09/serra-e-o-unico-candidato-que-ja-assinou-ordens-para-fazer-abortos-quando-ministro-da-saude-2.html
[5] http://www.cfemea.org.br/pdf/normatecnicams.pdf
[6]http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=856843&tit=FHC-e-intelectuais-pedem-legalizacao-da-maconha
[7] http://www1.folha.uol.com.br/poder/754484-serra-se-diz-a-favor-da-uniao-civil-e-da-adocao-de-criancas-por-gays.shtml
[8] http://www.eclesia.com.br/revistadet1.asp?cod_artigos=206
________________________________________

A MÍDIA COMERCIAL EM GUERRA CONTRA
LULA E DILMA

Leonardo Boff*

Sou profundamente a favor da liberdade de expressão em nome da qual fui punido com o “silêncio obsequioso” pelas autoridades do Vaticano. Sob risco de ser preso e torturado, ajudei a editora Vozes a publicar corajosamente o “Brasil Nunca Mais” onde se denunciavam as torturas, usando exclusivamente fontes militares, o que acelerou a queda do regime autoritário.

Esta história de vida, me avalisa fazer as críticas que ora faço ao atual enfrentamento entre o Presidente Lula e a mídia comercial que reclama ser tolhida em sua liberdade. O que está ocorrendo já não é um enfrentamento de ideias e de interpretações e o uso legítimo da liberdade da imprensa. Está havendo um abuso da liberdade de imprensa que, na previsão de uma derrota eleitoral, decidiu mover uma guerra acirrada contra o Presidente Lula e a candidata Dilma Rousseff. Nessa guerra vale tudo: o factóide, a ocultação de fatos, a distorção e a mentira direta.

Precisamos dar o nome a esta mídia comercial. São famílias que, quando vêem seus interesses comerciais e ideológicos contrariados, se comportam como “famiglia” mafiosa. São donos privados que pretendem falar para todo Brasil e manter sob tutela a assim chamada opinião pública. São os donos do Estado de São Paulo, da Folha de São Paulo, de O Globo, da revista Veja na qual se instalou a razão cínica e o que há de mais falso e chulo da imprensa brasileira. Estes estão a serviço de um bloco histórico, assentado sobre o capital que sempre explorou o povo e que não aceita um Presidente que vem deste povo. Mais que informar e fornecer material para a discusão pública, pois essa é a missão da imprensa, esta mídia empresarial se comporta como um feroz partido de oposição.

Na sua fúria, quais desesperados e inapelavelmente derrotados, seus donos, editorialistas e analistas não têm o mínimo respeito devido à mais alta autoridade do pais, ao Presidente Lula. Nele vêem apenas um peão a ser tratado com o chicote da palavra que humilha.

Mas há um fato que eles não conseguem digerir em seu estômago elitista. Custa-lhes aceitar que um operário, nordestino, sobrevivente da grande tribulação dos filhos da pobreza, chegasse a ser Presidente. Este lugar, a Presidência, assim pensam, cabe a eles, os ilustrados, os articulados com o mundo, embora não consigam se livrar do complexo de vira-latas, pois se sentem meramente menores e associados ao grande jogo mundial. Para eles, o lugar do peão é na fábrica produzindo.

Como o mostrou o grande historiador José Honório Rodrigues (Conciliação e Reforma) “a maioria dominante, conservadora ou liberal, foi sempre alienada, antiprogresssita, antinacional e não contemporânea. A liderança nunca se reconciliou com o povo. Nunca viu nele uma criatura de Deus, nunca o reconheceu, pois gostaria que ele fosse o que não é. Nunca viu suas virtudes nem admirou seus serviços ao país, chamou-o de tudo, Jeca Tatu, negou seus direitos, arrasou sua vida e logo que o viu crescer ela lhe negou, pouco a pouco, sua aprovação, conspirou para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que continua achando que lhe pertence (p.16)”.

Pois esse é o sentido da guerra que movem contra Lula. É uma guerra contra os pobres que estão se libertando. Eles não temem o pobre submisso. Eles tem pavor do pobre que pensa, que fala, que progride e que faz uma trajetória ascedente como Lula. Trata-se, como se depreende, de uma questão de classe. Os de baixo devem ficar em baixo. Ocorre que alguém de baixo chegou lá em cima. Tornou-se o Presidente de todos os brasileiros. Isso para eles é simplesmente intolerável.

Os donos e seus aliados ideológicos perderam o pulso da história. Não se deram conta de que o Brasil mudou. Surgiram redes de movimentos sociais organizados de onde vem Lula e tantas outras lideranças. Não há mais lugar para coronéis e de “fazedores de cabeça” do povo. Quando Lula afirmou que “a opinião pública somos nós”, frase tão distorcida por essa mídia raivosa, quis enfatizar que o povo organizado e consciente arrebatou a pretensão da mídia comercial de ser a formadora e a porta-voz exclusiva da opinião pública. Ela tem que renunciar à ditadura da palavra escrita, falada e televisionada e disputar com outras fontes de informação e de opinião.

O povo cansado de ser governado pelas classes dominantes resolveu votar em si mesmo. Votou em Lula como o seu representante. Uma vez no Governo, operou uma revolução conceptual, inaceitável para elas. O Estado não se fez inimigo do povo, mas o indutor de mudanças profundas que beneficiaram mais de 30 milhões de brasileiros. De miseráveis se fizeram pobres laboriosos, de pobres laboriosos se fizeram classe média baixa e de classe média baixa de fizeram classe média. Começaram a comer, a ter luz em casa, a poder mandar seus filhos para a escola, a ganhar mais salário, em fim, a melhorar de vida.

Outro conceito inovador foi o desenvolvimento com inclusão social e distribuição de renda. Antes havia apenas desenvolvimento/crescimento que beneficiava aos já beneficiados à custa das massas destituídas e com salários de fome. Agora ocorreu visível mobilização de classes, gerando satisfação das grandes maiorias e a esperança que tudo ainda pode ficar melhor. Concedemos que no Governo atual há um déficit de consciência e de práticas ecológicas. Mas importa reconhecer que Lula foi fiel à sua promessa de fazer amplas políticas públicas na direção dos mais marginalizados.

O que a grande maioria almeja é manter a continuidade deste processo de melhora e de mudança. Ora, esta continuidade é perigosa para a mídia comercial que assiste, assustada, o fortalecimento da soberania popular que se torna crítica, não mais manipulável e com vontade de ser ator dessa nova história democrática do Brasil. Vai ser uma democracia cada vez mais participativa e não apenas delegatícia. Esta abria amplo espaço à corrupção das elites e dava preponderância aos interesses das classes opulentas e ao seu braço ideológico que é a mídia comercial. A democracia participativa escuta os movimentos sociais, faz do Movimento dos Sem Terra (MST), odiado especialmente pela VEJA faz questão de não ver, protagonista de mudanças sociais não somente com referência à terra mas também ao modelo econômico e às formas cooperativas de produção.

O que está em jogo neste enfrentamento entre a mídia comercial e Lula/Dilma é a questão: que Brasil queremos? Aquele injusto, neocolonial, neoglobalizado e no fundo, retrógrado e velhista ou o Brasil novo com sujeitos históricos novos, antes sempre mantidos à margem e agora despontando com energias novas para construir um Brasil que ainda nunca tínhamos visto antes.

Esse Brasil é combatido na pessoa do Presidente Lula e da candidata Dilma. Mas estes representam o que deve ser. E o que deve ser tem força. Irão triunfar a despeito das má vontade deste setor endurecido da mídia comercial e empresarial. A vitória de Dilma dará solidez a este caminho novo ansiado e construído com suor e sangue por tantas gerações de brasileiros.

*Teólogo, filósofo, escritor e representante da Iniciativa Internacional da Carta da Terra.
____________________________________________

CONSOLIDAR A RUPTURA HISTÓRICA OPERADA
PELO PT
*Leonardo Boff - Teólogo

Para mim o significado maior desta eleição é consolidar a ruptura que Lula e o PT instauraram na história política brasileira. Derrotaram as elites econômico-financeiras e seu braço ideológico a grande imprensa comercial. Notoriamente, elas sempre mantiveram o povo à margem da cidadania, feito, na dura linguagem de nosso maior historiador mulato, Capistrano de Abreu, “capado e recapado, sangrado e ressangrado”.

Elas estiveram montadas no poder por quase 500 anos. Organizaram o Estado de tal forma que seus privilégios ficassem sempre salvaguardados. Por isso, segundo dados do Banco Mundial, são aquelas que, proporcionalmente, mais acumulam no mundo e se contam, política e socialmente, entre as mais atrasadas e insensíveis. São vinte mil famílias que, mais ou menos, controlam 46% de toda a riqueza nacional, sendo que 1% delas possui 44% de todas as terras. Não admira que estejamos entre os países mais desiguais do mundo, o que equivale dizer, um dos mais injustos e perversos do planeta.

Até a vitória de um filho da pobreza, Lula, a casa grande e a senzala constituíam os gonzos que sustentavam o mundo social das elites. A casa grande não permitia que a senzala descobrisse que a riqueza das elites fora construída com seu trabalho superexplorado, com seu sangue e suas vidas, feitas carvão no processo produtivo. Com alianças espertas, embaralhavam diferentemente as cartas para manter sempre o mesmo jogo e, gozadores, repetiam: “façamos nós a revolução antes que o povo a faça”. E a revolução consistia em mudar um pouco para ficar tudo como antes. Destarte, abortavam a emergência de um outro sujeito histórico de poder, capaz de ocupar a cena e inaugurar um tempo moderno e menos excludente. Entretanto, contra sua vontade, irromperam redes de movimentos sociais de resistência e de autonomia. Esse poder social se canalizou em poder político até conquistar o poder de Estado.

Escândalo dos escândalos para as mentes súcubas e alinhadas aos poderes mundiais: um operário, sobrevivente da grande tribulação, representante da cultura popular, um não educado academicamente na escola dos faraós, chegar ao poder central e devolver ao povo o sentimento de dignidade, de força histórica e de ser sujeito de uma democracia republicana, onde “a coisa pública”, o social, a vida lascada do povo ganhasse centralidade. Na linha de Gandhi, Lula anunciou: “não vim para administrar, vim para cuidar; empresa eu administro, um povo vivo e sofrido eu cuido”. Linguagem inaudita e instauradora de um novo tempo na política brasileira. A “Fome Zero”, depois a “Bolsa Família”, o “Crédito consignado”, o “Luz para todos”, a “Minha Casa, minha Vida, a “Agricultura familiar, o “Prouni”, as “Escolas profissionais”, entre outras iniciativas sociais permitiram que a sociedade dos lascados conhecesse o que nunca as elites econômico-financeiras lhes permitiram: um salto de qualidade. Milhões passaram da miséria sofrida à pobreza digna e laboriosa e da pobreza para a classe média. Toda sociedade se mobilizou para melhor.

Mas essa derrota infligida às elites excludentes e anti-povo, deve ser consolidada nesta eleição por uma vitória convincente para que se configure um “não retorno definitivo” e elas percam a vergonha de se sentirem povo brasileiro assim como é e não como gostariam que fosse. Terminou o longo amanhecer.

Houve três olhares sobre o Brasil. Primeiro, foi visto a partir da praia: os índios assistindo a invasão de suas terras. Segundo, foi visto a partir das caravelas: os portugueses “descobrindo/encobrindo” o Brasil. O terceiro, o Brasil ousou ver-se a si mesmo e aí começou a invenção de uma república mestiça étnica e culturalmente que hoje somos. O Brasil enfrentou ainda quatro duras invasões: a colonização que dizimou os indígenas e introduziu a escravidão; a vinda dos povos novos, os emigrantes europeus que substituírem índios e escravos; a industrialização conservadora de substituição dos anos 30 do século passado mas que criou um vigoroso mercado interno e, por fim, a globalização econômico-financeira, inserindo-nos como sócios menores.

Face a esta história tortuosa, o Brasil se mostrou resiliente, quer dizer, enfrentou estas visões e intromissões, conseguindo dar a volta por cima e aprender de suas desgraças. Agora está colhendo os frutos.

Urge derrotar aquelas forças reacionárias que se escondem atrás do candidato da oposição. Não julgo a pessoa, coisa de Deus, mas o que representa como ator social. Celso Furtado, nosso melhor pensador em economia, morreu deixando uma advertência, título de seu livro A construção interrompida (1993): “Trata-se de saber se temos um futuro como nação que conta no devir humano. Ou se prevalecerão as forças que se empenham em interromper o nosso processo histórico de formação de um Estado-nação” (p.35). Estas não podem prevalecer. Temos condições de completar a construção do Brasil, derrotando-as com Lula e as forças que realizarão o sonho de Celso Furtado e o nosso.

*Leonardo Boff autor de Depois de 500 anos: que Brasil queremos, Vozes (2000).
___________________________________________________

DILMA ROUSSEF E A FÉ CRISTÃ

*Frei Betto

Em tudo o que Dilma realizou, falou ou escreveu, jamais se encontrará uma única linha contrária aos princípios do Evangelho e da fé cristã. Conheço Dilma Rousseff desde criança. Éramos vizinhos na Rua Major Lopes, em Belo Horizonte. Ela e Thereza, minha irmã foram amigas de adolescência. Anos depois, nos encontramos no presídio Tiradentes, em São Paulo. Ex-aluna de colégio religioso, dirigido por freiras de Sion, Dilma, no cárcere, participava de orações e comentários do Evangelho.

Nada tinha de marxista, ateia. Nossos torturadores, sim, praticavam o ateísmo militante ao profanar, com violência, os templos vivos de Deus: as vítimas levadas ao pau-de-arara, ao choque elétrico, ao afogamento e à morte.

Em 2003, deu-se meu terceiro encontro com Dilma, em Brasília, nos dois anos em que participei do governo Lula. De nossa amizade, posso assegurar que não passa de campanha difamatória - diria terrorista, acusar Dilma Rousseff de abortista ou contrária aos princípios evangélicos.

Se um ou outro bispo critica Dilma, há que se lembrar que, por ser bispo, ninguém é dono da verdade. Nem tem o direito de julgar o foro íntimo do próximo. Dilma, como Lula, é pessoa de fé cristã, formada na Igreja Católica. Na linha do que recomenda Jesus, ela e Lula não saem por aí propalando, como fariseus, suas convicções religiosas. Preferem comprovar, por suas atitudes, que boa árvore se conhece pelos frutos, como acentua o Evangelho.

É na coerência de suas ações, na ética de procedimentos políticos e na dedicação ao povo brasileiro que políticos como Dilma e Lula testemunham a fé que abraçam.

Sobre Lula, desde as greves do ABC, espalharam horrores: se eleito, tomaria as mansões do Morumbi, em São Paulo; expropriaria fazendas e sítios produtivos; implantaria o socialismo por decreto.

Passados quase oito anos, o que vemos? Um Brasil mais justo, com menos miséria e mais distribuição de renda, sem criminalizar movimentos sociais ou privatizar o patrimônio público, respeitado internacionalmente. Até o segundo turno, nichos da oposição ao governo Lula haverão de ecoar boataria e mentiras. Mas não podem alterar a essência de uma pessoa. Em tudo o que Dilma realizou, falou ou escreveu, jamais se encontrará uma única linha contrária ao conteúdo da fé cristã e aos princípios do Evangelho.

Certa vez indagaram a Jesus quem haveria de se salvar. Ele não respondeu que seriam aqueles que vivem batendo no peito e proclamando o nome de Deus. Nem os que vão à missa ou ao culto todos os domingos. Nem quem se julga dono da doutrina cristã e se arvora em juiz de seus semelhantes.

A resposta de Jesus surpreendeu: Eu tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; estive enfermo e me visitastes; oprimido, e me libertastes (Mateus 25, 31-46). Jesus se colocou no lugar dos mais pobres e frisou que a salvação está ao alcance de quem, por amor, busca saciar a fome dos miseráveis, não se omite diante das opressões, procura assegurar a todos, vida digna e feliz.

Isso o governo Lula tem feito, segundo a opinião de 77% da população brasileira, como demonstram as pesquisas. Com certeza, Dilma, se eleita presidente, prosseguirá na mesma direção.

*FREI BETTO, frade dominicano, é assessor de movimentos sociais e escritor, autor de Um homem chamado Jesus (Rocco), entre outros livros. Foi assessor especial da Presidência da República no governo Lula (2003-2004).
____________________________________________

DILMA DEDICOU SUA VIDA À CONSTRUÇÃO DE UM PAÍS MAIS JUSTO PARA TODOS

*Telma Maria Gonçalves Menicucci

Quem é mais cristão? Os que dizem ou os que dão testemunho de vida?

Quem é mais eficiente?

Quem corta gastos essenciais ou quem melhora o bem-estar da população?

A legislação brasileira democraticamente garante a realização de eleições em um segundo turno no caso de o candidato a eleições majoritárias não alcançar mais de 50% dos votos. Nesta campanha presidencial, Dilma chegou perto disso ao obter quase 47% dos votos no primeiro turno, sendo a grande vitoriosa. José Serra, não por mérito seu, mas por contar com a sorte do avanço dos votos de Marina, foi o segundo colocado com larga diferença de votos. A chance inesperada de disputar o segundo turno acendeu a sua esperança (a última) de chegar à Presidência.

Com uma candidatura já derrotada por suas propostas e por seu significado de volta a um passado indesejado, a campanha Serra no 2º turno ataca desesperadamente na desconstrução da pessoa da candidata Dilma, e sobram calúnias, mentiras e ambigüidades em apenas uma semana de campanha. No confronto de propostas a luta é desigual e pior para ele na medida em que Dilma representa a possibilidade de continuidade do Governo Lula, avaliado positivamente tanto internacionalmente quanto pela grande maioria da população brasileira.

Os dados são inequívocos e objetivos e apenas o velho preconceito em relação ao Partido dos Trabalhadores, ao presidente operário, aos pobres se tornando cidadãos – e agora à mulher - impede à parte da elite brasileira de comemorar e curtir o grande momento que o país atravessa, quando todos os indicadores mostram avanços em todos os setores.

O principal inequivocamente foi o desenvolvimento econômico, que não se limitou a crescimento da riqueza, mas foi acompanhado de desenvolvimento social, com diminuição significativa da pobreza e melhoria nos indicadores sociais – fruto não apenas do crescimento econômico, mas de políticas sociais voltadas para todos os segmentos da população, particularmente aqueles mais vulneráveis como mulheres, idosos, negros, índios, quilombolas, trabalhadores rurais, buscando-se ainda criar os territórios de cidadania com a integração de diversas políticas públicas com vistas à inclusão social.

A educação de fato e não retoricamente foi uma das prioridades, com elevação expressiva dos gastos públicos, transformados em investimentos, e de fato atualizando em medidas concretas o vago discurso das oposições de que educação é prioridade: em contraponto à política do governo FHC/PSDB anterior, cresceram significativamente os investimentos em pesquisa, para aumento de vagas nas universidades, qualificação de professores, equipamentos, salários, criação de escolas técnicas.

Internacionalmente, além de o presidente Lula ter sido considerado um dos dez maiores estadistas da atualidade – coisa que a mídia nacional, supostamente reprimida pelo governo como é a idéia que se tenta veicular na oposição ao governo e à candidatura Dilma, não deu a menor importância, o Brasil conquistou o respeito internacional, tornando-se um ator relevante na política internacional e um parceiro comercial expressivo.

Esse reconhecimento se expressa simbolicamente na escolha em sediar a copa do Mundo/2014 e as Olimpíadas/2016. Enfim, desenvolveu-se a economia, aumentaram os empregos formais, salários, crédito, a crise internacional no Brasil foi de fato uma marolinha, tornou-se credor do FMI, ampliou o superavit primário, etc, etc. Somam-se os resultados, mas amplia-se o preconceito.

Como fazer oposição a esses dados inequívocos que apontam a eficácia e eficiência real do Governo Lula com Dilma? A eficiência, um valor tão alardeado no discurso do PSDB, de fato acoberta o conflito entre visões de mundo díspares e concepções de gestão pública também diversas.

No estilo tucano de governar, de meio ou instrumento a eficiência se torna um fim em si mesma e se exprime em mudanças apenas organizacionais e no objetivo de cortar os gastos públicos, mas apenas alguns deles, ou seja, os gastos sociais e os relativos ao funcionamento da máquina pública em detrimento do fortalecimento e ampliação dos funcionários de carreira, qualificados e desenvolvidos no ethos público.

Mas existe outra concepção de eficiência, construída no Governo Lula com Dilma, que tem como pressuposto a eficácia no alcance dos resultados e que se vincula à idéia de se fazer um governo voltado para todos os brasileiros e brasileiras. Eficiência na construção de mecanismos democráticos para definição do interesse público, bem diferente da definição do "interesse público" de forma autocrática e tecnocrática, onde os interesses do andar de baixo nunca são levados em conta – tão característicos do estilo de gestão tucana.

Como fazer oposição às claras e apresentar o outro projeto real de governo Serra que não tem como objetivo principal a inclusão social, a diminuição das desigualdades, a ampliação da justiça social? A resposta parece ser: com difamação, mentiras e buscando confundir os eleitores, particularmente usando a fé e os valores cristãos e forjando uma imagem da candidata Dilma como a anti-vida, anti-família, a imagem do diabo, aliás pactuado com o candidato a vice-presidente. Insinuando obscuridades na biografia de Dilma. Esse está sendo o tom da campanha Serra.

Mas quem é Dilma de fato? Uma mulher corajosa, inteligente e competente que desde sua juventude e de forma ininterrupta dedicou sua vida à construção de um país mais justo para todos. Bem jovem abriu mão de uma carreira de sucesso, como estudante brilhante de economia e em momento de possibilidades de ascensão social para elites profissionais, e arriscou sua vida e sua liberdade para lutar contra um governo autoritário e excludente.

Após pagar com a perda da liberdade e muito sofrimento a sua opção coletiva, muito jovem ainda assumiu cargos públicos, sendo Secretaria da Fazenda de Porto Alegre; diretora-geral da Câmara de Vereadores de Porto Alegre; presidente da Fundação de Economia e Estatística, Secretaria Estadual de Minas, Energia e Comunicação; participou da equipe do governo de transição do governo Lula; foi sua ministra de Minas e Energia (com a tarefa de afastar o risco de outro racionamento de energia como o do governo FHC), presidiu o Conselho de Administração da Petrobrás, e a chefia da Casa Civil a partir de 2005 com a função de coordenar o trabalho de todo o Ministério do Governo Lula.

Nessa função, assumiu a coordenação de programas estratégicos como o PAC, o Minha Casa, Minha Vida – fundamentais para o desenvolvimento e para a ampliação da infraestrutura social - e a Comissão Interministerial encarregada de definir as regras para a exploração do Pré-Sal, além de ter integrado a Junta Orçamentária do governo e participado ativamente de outros projetos como a definição do modelo de TV Digital e a implantação de internet banda larga nas escolas públicas. Um conjunto de atividades técnicas e políticas. Fez tudo isso sem deixar de ser mulher, mãe, avó e filha. Sem perder a esperança.

Nunca se candidatou a cargos públicos antes, mas acumulou uma das maiores experiências em gestão pública nos três níveis de governo: municipal, estadual e federal - ao se tornar o braço direito do presidente Lula durante quase todo seu mandato, ajudando-o a mudar o Brasil. Dado que gestão pública é um misto de técnica e capacidade política, mente quem diz que ela não está preparada.

Basta lembrar que Lula só exerceu um mandato, o de deputado constituinte, antes de se eleger presidente e foi talvez o melhor presidente que o país já teve. Mas a trajetória de Dilma demonstra sua competência e sua inserção política, e mostra o compromisso de uma vida inteira pela melhoria do país para todos, com inclusão social e mais igualdade. Nada mais cristão e fraterno e que não se proclama em palavras e bravatas de campanha, mas em testemunho de vida.

*Doutora em Sociologia e Política pela UFMG
Professora do Departamento de Ciência Política/UFMG